Introdução
Deus é um Deus que deseja revelar-Se. Ele não permanece silencioso como os deuses dos pagãos, tanto antigos como modernos. O Senhor Se agrada em tornar-Se conhecido de Suas criaturas. Ele é representado como um Deus; o amor deve comunicar-se sempre, e essa revelação deve proceder do próprio Deus. Os pensamentos do ser humano só podem ser revelados pelo ser humano. Deus, da mesma forma, é o único que pode fazer-Se conhecer. O Deus da Bíblia é um Deus que fala. Desde a criação, através de toda a história, Deus Se revelou através das Palavras. Ele falou e o Universo veio a existir. "Por meio da Sua Palavra, o SENHOR fez os céus; pela Sua ordem, Ele criou o sol, a lua e as estrelas" (Sl 33.6). No correr dos anos Ele transmitira Sua vontade e prooósitos falando a homens escolhidos, com a maior de todas as revelações na Pessoa de Jesus Cristo, a Palavra: "Antes de ser criado o mundo, aQuele que é a Palavra já existia. Ele estava com Deus e era Deus. Desde o princípio, a Palavra estava com Deus. Por meio da Palavra, Deus fez todas as coisas, e nada do que existe foi feito sem Ela. A Palavra era a fonte da vida, e essa vida trouxe a luz para todas as pessoas" (Jo 1.1-4). "Antigamente, por meio dos profetas, Deus falou muitas vezes e de muitas maneiras aos nossos antepassados, mas nestes últimos tempos Ele nos falou por meio do Seu Filho. Foi Ele quem Deus escolheu para possuir todas as coisas e foi por meio dEle que Deus criou o Universo" (Hb 1.1-2).
Deus Se agradou em que todas essas revelações de Si mesmo fossem preservadas para o ser humano de hoje no livro que chamamos de Bíblia. Muitos naturalistas afirmaram que a única revelação de Deus de que necessitam pode ser encontrada na natureza, e não têm necessidade da revelação espiritual contida na Bíblia. Se Deus é o Criador de toda a natureza, como a Bíblia declara ser, então a natureza verdadeiramente revelará moito sobre aQuele que a trouxe à existência. A revelação de Deus pela natureza é, porém, bastante limitada. O Deus que criou este mundo surpreendente, sem mencionar o vasto Universo de que ele é uma parte diminuta, deve ser certamente um Deus de grande sabedoria e poder. Mas a revelação termina aqui. A natureza nada nos conta sobre o maravilhoso amor de Deus, nem sobre Sua santidade, nem sobre a graça que concedeu salvação através do Senhor Jesus Cristo. Todos os grandes propósitos e planos de Deus para a humanidade são revelados apenas na Palavra Escrita, a Bíblia. Existe uma opinião, amplamente defendida em alguns círculos intelectuais, de que a Bíblia é o relato do perpétuo esforço humano para encontrar Deus. Se isto fosse certo, não haveria nela qualquer autoridade ou sentido de revelação Divina, mas simplesmente a história da tentativa humana de alcançar verdades muito além de sua capacidade. Ao invés de a Bíblia apresentar os esforços do ser humano para descobrir Deus, ela é uma narrativa dos esforços de Deus para revelar-Se ao ser humano. É então de suma importância que entendamos algo de sua origem, sua formação, sua autoridade, infabilidade e inspiração Divina.
1. OS NOMES DAS ESCRITURAS
1.1. Bíblia
A palavra "Bíblia" em português vem do grego biblos, que significa "um livro"; também de biblion, uma forma diminutiva de biblos, significando "pequeno livro". O termo biblos vem do nome dado à polpa interna da planta do papiro em que se escreviam os livros antigos.
1.2. Outros nomes
A Bíblia também é chamada de "Escrituras (escritos sagrados)", "Sagradas Escrituras", "Sagradas Letras", "Oráculos de Deus", um dos nomes mais descritivos é: "Palavra de Deus".
2. AS DIVISÕES DAS ESCRITURAS
2.1. Os dois Testamentos
A Bíblia está dividida em duas seções conhecidas como o Antigo Testamento e o Novo Testamento. A palavra "testamento" foi originalmente traduzida como "aliança" que Deus fez com Seu povo. O Antigo Testamento contém 39 livros e o Novo, 27.
2.2. Divisões do Antigo Testamento
O Antigo Testamento hebraico era geralmente dividido em três seções:
* A Lei (Tora), cinco livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
* Os Profetas (Nebhiim), oito livros: Primeiros Profetas - Josué, Juízes, Samuel, Reis; Últimos Profetas: Isaías, Jeremias, Ezequiel, os Doze.
* Os Escritos (Kethbhim), 11 livros: Livros Poéticos - Salmos, Provérbios, Jó; Cinco Pergaminhos (Megilloth) - Cantares de Salomão, Rute, Lamentações, Ester e Eclesiastes; Livros Históricos - Daniel, Esdras - Neemias, Crônicas.
Estas divisões estão de acordo com as palavras de Jesus: "Depois disse: Enquanto ainda estava com vocês, Eu disse que tinha de acontecer tudo o que estava ecrito a Meu respeito na Lei de Moisés, nos livros dos Profetas e nos Salmos" (Lc 24.44).
2.3. Divisões do Novo Testamento
* Biográficos (quatro livros): Mateus, Marcos, Lucas e João.
* Histórico (um livro): Atos.
* Pedagógicos (21 livros): Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Tomóteo, Tito, Filemom, Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 João e Judas.
* Profético (um livro): Apocalipse.
As seguintes divisões alternativas são por vezes sugeridas:
1) Os evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João.
2) Os Atos dos Apóstolos.
3) As Cartas de Paulo (inclusive Hebreus).
4) As Cartas gerais.
5) O livro de Apocalipse.
2.4. Capítulos e versículos
A Bíblia era originalmente dividida em capítulos e versículos como a conhecemos hoje. Para conveniência de referência, eles foram acrescentados em datas comparativamente recentes. Supunha-se que as divisões em capítulos tivessem sido introduzidas pela primeira vez pelo Cardeal Hugo, que morreu em 1263. Investigações posteriores as atribuíram a Stephen Langton, Arcebispo de Canterbury, falecido em 1228. O Novo Testamento apareceu publicado pela primeira vez com divisões em versículos por Robert Stephans, em 1551. A primeira Bíblia a ser publicada inteiramente dividida em versículos foi a Bíblia de Genebra, em 1560.
É de suma importância que o estudante compreenda que estas divisões não faziam parte dos textos originais, não foram inspiradas. A maioria das divisões é muito útil, mas algumas trazem bastante confusão por terem sido inseridas no meio do assunto tratado, havendo então uma tendência de se pensar que há um novo tema quando termina um capítulo e outro começa. Algumas vezes hpa necessidade de ignorar completamente a divisão em capítulos. Dois exemplos simples deste problema são os seguintes: em Atos 22, a mensagem de Paulo está separada dos acontecimentos que a motivaram, registrados no capítulo anterior.
Segundo os números dados por William Evans, a Bíblia "contém 1.189 capítulos e 31.173 versículos... Destes, 929 capítulos, 23.214 versículos... ocorrem no Antigo Testamento; 260 capítulos, 7.959 versículos..., no Novo".
3. OS ESCRITORES DAS ESCRITURAS
A Bíblia é um só livro, sendo também muitos livros escritos por quarenta autores, muitos dos quais nunca se conheceram, através de um período de 1.500 anos. Todavia, sua unidade e continuidade são tão evidentes que é fácil pensar que teve um só autor - que seria o próprio Deus.
Dos sessenta e seis livros da Bíblia, os autores de cinqüenta e cinco são facilmente identificados pela tradição e história. Os onze livros cujos autores não são conhecidos são: Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Ester, Jó e Hebreus. Alguns livros, tais como Gênesis, Juízes, 1 e 2 Reis e 1 e 2 Crônicas, cobrem períodos tão longos da história que talvez se tratem de coleções de registros antigos reunidos e editados por algum indivíduo escolhido por Deus, perto do final do período descrito no livro. Por exemplo, Moisés poderia ter compilado o livro de Gênesis. Se assim for, o número real de escritores que contribuíram para a Bíblia pode ser consideravelmente maior que quarenta. Salmos e Provérbios têm vários autores. As inscrições que aparecem como cabeçalho de muitos salmos sugerem pelo menos sete escritores. Além de Salomão, como autor de Provérbios, Agur é mencionado no capítulo trinta, versículo um, e o Rei Lemuel no capítulo trinta e um, versículo um.
Todos os autores, com a possível exceção de Lucas, eram judeus e escreveram no contexto da religião judaica. Todavia, as palavras por eles escritas contêm maior apelo e interesse para as pessoas de todas as nações do que quaisquer outras palavras já escritas.
É sumamente interessante norar a variedade de ocupações representadas pelos autores:
* Dois dos escritores eram reis - Davi e Salomão.
* Dois eram sacerdotes - Jeremias e Ezequiel.
* Lucas era médico.
* Dois eram pescadores - Pedro e João.
* Dois eram pastores - Moisés e Amós.
* Paulo era fariseu e teólogo.
* Daniel era político.
* Mateus era cobrador de impostos.
* Josué era soldado.
* Esdras era escriba.
* Neemias era mordomo.
Os antecedentes e ocupações dos outros são desconhecidos.
4. O CÂNON DAS ESCRITURAS
A palavra "cânon" vem do grego kanon, significando uma "cana" (vara de medir), e indica uma regra, uma norma. Assim sendo, o cânon da Bíblia consiste naqueles livros considerados com mérito para serem incluídos nas Sagradas Escrituras. Segundo os autores Selby e West: "A canonização foi o resultado de séculos de desenvolvimento, mediante o qual só aqueles escritos que se mostraram úteis para a fé e a adoração foram elevados a um papel tão decisivo. Isto quer dizer que o cânon não foi determinado tanto por decreto rabínico ou da igreja, como pelo mérito de cada livro separadamente e pela sua recepção pela comunidade de fiéis, em vista da inspiração ou edificação que oferecia."
4.1. O cânon do Antigo Testamento
Qualquer consideração sobre as épocas exatas em que o cânon do Antigo Testamento se encerrou leva a uma variedade de opiniões entre os eruditos bíblicos. O Antigo Testamento não se refere ao assunto. No entanto, oferece muitas sugestões quanto ao início das leis de Deus por escrito, a fim de que pudessem ser preservadas para o povo. O capítulo 17 de Êxodo narra a vitória dos filhos de Israel sobre Amaleque, enquanto as mãos de Moisés eram mantidas no alto diante do Senhor, e o versículo 14 diz: "Então o SENHOR Deus disse a Moisés: Escreva um relatório dessa vitória a fim de que ela seja lembrada. Diga a Josué que Eu vou destruir completamente os amalequitas". Deuteronômio, capítulo 31, dá uma descrição de Moisés escrevendo a Lei, que deveria ser guardada e lida para o povo de Israel a cada sete anos. "Moisés escreveu esta Lei e a entregou aos líderes do povo e aos sacerdotes levitas que levavam a arca da aliança de Deus, o SENHOR. E Moisés lhes deu a seguinte ordem: De sete em sete anos, no ano marcado para perdoar as dívidas, leiam esta Lei durante a Festa das Barracas. Todos os israelitas deverão estar presentes para adorar o SENHOR Deus no lugar que Ele tiver escolhido. Ali, na presença do povo, leiam a Lei em voz alta" (vv. 9-11).
Esta ocasião poderia marcar perfeitamente o princípio do cânon do Antigo Testamento, pois lemos: "Moisés escreveu com cuidado num livro todas as palavras da Lei de Deus e depois o entregou aos levitas encarregados de levar a arca da aliança de Deus, o SENHOR. Moisés lhes disse: Ponham este Livro da Lei de Deus ao lado da arca da aliança do SENHOR, nosso Deus, para que fique ali como testemunha contra o povo" (Dt 31.24-26). Josué, sucessor de Moisés, também escreveu "Josué os escreveu no Livro da Lei de Deus. Em seguida pegou uma grande pedra e a colocou ali debaixo da árvore sagrada, no lugar onde adoravam a Deus, o SENHOR" (Js 24.26). Samuel registrou certos acontecimentos de sua época num livro. Lemos: "Samuel explicou ao povo os direitos e deveres de um rei e os escreveu num livro, que foi colocado na presença de Deus, o SENHOR. Aí mandou todos para casa" (1 Sm 10.25). Os profetas, em tempos posteriores, ocuparam-se em escrever livros. Deus fala a Jeremias e diz: "Jeremias, pegue um rolo - um livro - e escreva nele tudo o que lhe falei a respeito do povo de Israel e de Judá e a respeito de todas as nações. Escreva tudo o que Eu disse desde a primeira vez em que falei com você, quando Josias era rei, até hoje" (Jr 36.2). Gerações que vieram depois consultaram os escritos de seus predecessores. Daniel examina "os livros" e descobre que o profeta Jeremias limitou o prazo em que Jerusalém seria devastada pelo inimigo a setenta anos "No primeiro ano do seu reinado, eu estava estudando os livros sagrados e pensando nos setenta anos que Jerusalém ficaria arrasada, de acordo com o que o SENHOR Deus tinha dito ao profeta Jeremias" (Dn 9.2). Mais tarde, quando o povo voltara a reunir-se em Jerusalém, depois do cativeiro babilônico, a lei de Moisés foi lida e honrada (Ne 8.1-8). Durante o reinado de Josias em Judá, o livro da Lei do Senhor, que se perdera, foi encontrado: "Safã deu a ordem do rei a Hilquias, e este lhe contou que havia achado o Livro da Lei no Templo. Hilquias lhe entregou o livro, e ele o leu" (2 Rs 22.8). Josias reuniu os anciões de Judá e Jerusalém, "e eles foram todos juntos até o Templo, acompanhados pelos sacerdotes, pelos profetas e por todo o resto do povo, tanto os mais importantes como os mais humildes. Então o rei leu diante deles todo o Livro da aliança que havia sido achado no Templo" (2 Rs 23.2). Vemos desse modo os começos do que veio posteriormente a tornar-se a Escritura do Antigo Testamento.
Segundo George L. Robinson, depois de considerar cuidadosamente as diversas evidências disponíveis, conclui (segundo a divisão tripla do Antigo Testamento hebraico) que os livros da Lei foram reconhecidos como canônicos nos dias de Esdras (444 A.C.); que os Profetas foram reconhecidos como tal algum tempo depois (cerca de 200 A.C.) e que os Escritos receberam autoridade por volta de (100 A.C.) Robinson não afirma que houvesse três cânones separados, mas que "havia três classes separadas de Escritura, que entre 450 e 100 A.C. se mantinham sem dúvida em bases diferentes e só gradualmente passaram a ter autoridade".
Outros letrados se apegaram à crença de que só houve dois períodos de canonização correspondentes à "lei e aos profetas", sendo o cânon do Antigo Testamento completado cerca de 400 A.C. Qual dessas posições é a certa? Não se pode dizer com exatidão. O importante é que o cânon do Antigo Testamento se achava indubitavelmente completo nos dias de Cristo. Jesus referiu-se a ele como "as Escrituras", dizendo: "Vocês estudam as Escrituras Sagradas porque pensam que vão encontrar nelas a vida eterna. E são elas mesmas que dão testemunho a meu favor" (Jo 5.39). Lemos: "Então Jesus lhes disse: Como vocês demoram a entender e a crer em tudo o que os profetas disseram" (Lc 24.27). Em Lucas 11.51 encontramos uma declaração de Jesus em que Ele falou do tempo "começando pela morte de Abel até a morte de Zacarias, que foi assassinado entre o altar e o Lugar Santo. Sim, Eu afirmo a vocês que o povo de hoje será castigado por todos esses crimes". Jesus se referia aos mártires do Antigo Testamento. Abel foi o primeiro, como registrado em Gênesis 4, e Zacarias o último, registrado em 2 Crônicas 24.20-21. Na Bíblia hebraica, 2 Crônicas é o último livro, enquanto Gênesis é o primeiro. Assim sendo, Jesus não só deu sua aprovação ao Antigo Testamento inteiro, desde Gênesis até 2 Crônicas, mas também indicou que esses livros existiam e eram aprovados no período em que Ele esteve na terra.
Como evidência adicional da perfeição do cânon do Antigo Testamento nesta época, temos o testemunho do celebrado historiador judeu, Flávio Josefo. Em seus escritos ele afirma: "Porque não temos entre nós uma quantidade enorme de livros, que discordam e se contradizem entre si (como acontece com os gregos), mas apenas vinte e dois livros, que contêm os registros de todos os tempos passados, que cremos justamente serem Divinos ...e quão firmemente damos crédito a esses livros de nossa própria nação fica evidente pelo que fazemos; porque durante tantos séculos que já se passaram, ninguém teve ousadia suficiente para acrescentar nada a eles, cancelar qualquer coisa, nem fazer neles qualquer modificação; tendo-se tornado natural a todo judeu desde o seu nascimento estimar esses livros como contendo doutrinas Divinas, e perseverar nelas; e, caso necessário, morrer voluntariamente por elas."
Nossas Bíblias cristãs contêm trinta e nove livros no Antigo Testamento, enquanto o Antigo Testamento judeu só conta com vinte e quatro. Isto é explicado como segue: os doze livros dos Profetas Menores (Oséias até Malaquias) são apenas um livro; os seguintes são também um único livro cada um - 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias. Desse modo, embora não haja diferença nas palavras, o Antigo Testamento hebraico cita nove títulos a menos. Josefo contou vinte e dois porque reuniu Rute a Juízes e Lamentações a Jeremias.
4.2. Os apócrifos
A palavra "apócrifos", em seu significado comum, quer dizer "Livros Apócrifos" e se refere a quatorze livros acrescentados ao Antigo Testamento, considerados como parte do cânon sagrado, especialmente pela Igreja Católica Romana. Os protestantes geralmente não os incluem em sua Bíblia. O termo veio a ter o sentido de "oculto". A Septuaginta (LXX), tradução do Antigo Testamento em grego, feita entre 280 A.C. e 180 A.C., contém os livros apócrifos. Jerônimo os incluiu em sua tradução latina do Antigo Testamento, chamada de Vulgata. Esses livros não fazem parte da Bíblia hebraica. Os reformadores são em grande parte responsáveis por eliminar os Apócrifos da Bíblia, por haver neles elementos inconsistentes com a doutrina protestante (por exemplo, doutrinas de oração pelos mortos e intercessão dos santos). Os quatorze livros apócrifos são os seguintes, às vezes dispersos através de todo o Antigo Testamento e outras vezes impressos no seu final: 1 e 2 Esdras, Tobias, Judite, adições ao livro de Ester, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruque, com a Epístola de Jeremias, a Canção das Três Crianças Santas, a História de Suzana, Bel e o Dragão, A Oração de Manassés, 1 e 2 Macabeus. Embora partes de quase todos os livros do cânon do Antigo Testamento sejam citadas ou referidas diretamente no Novo Testamento, não existe qualquer citação ou referência a nenhum dos livros apócrifos.
4.3. O cânon do Novo Testamento
Fica muito mais fácil traçar a canonização dos vinte e sete livros do Novo Testamento do que a dos do Antigo Testamento. A evidência disponível é muito maior. Os livros do Novo Testamento foram escritos durante a última metade do século I A.D. A recém-formada igreja cristã usava as Escrituras do Antigo Testamento como base para a sua fé, mas, além disso, era dada grande importância às palavras de Jesus e aos ensinos dos apóstolos. Dessa forma, não decorreu muito tempo antes que os evangelhos passassem a ser usados juntamente com o Antigo Testamento. A autoridade dos apóstolos é plenamente confirmada. João declara: "Contamos a vocês o que vimos e ouvimos para que vocês estejam unidos conosco, assim como nós estamos unidos com o Pai e com Jesus Cristo, o seu Filho" (1 Jo 1.3). Pedro diz: "Nós não estávamos contando coisas inventadas quando anunciamos a vocês a vinda poderosa do nosso Senhor Jesus Cristo, pois com os nossos próprios olhos nós vimos a sua grandeza" (2 Pe 1.16); e lemos a respeito dos primeiros crentes: "E todos continuavam firmes, seguindo os ensinamentos dos apóstolos, vivendo em amor cristão, partindo o pão juntos e fazendo orações" (At 2.42).
Em vista de as epístulas de Paulo terem sido escritas para satisfazer a uma necessidade específica de uma igreja local ou de um indivíduo, eram preservadas pelo seu valor espiritual e lidas nas igrejas. Em várias ocasiões, Paulo deu instruções definidas para que suas cartas fossem lidas e circuladas. Ele escreveu à igreja em Tessalônica: "Peço com insistência, pela autoridade do Senhor, que esta carta seja lida para todos os irmãos" (1 Ts 5.27). À igreja de Colossos ele advertiu: "Peço que, depois de lerem esta carta, vocês a mandem para Laodicéia a fim de que os irmãos de lá também a leiam. E vocês leiam a carta que vai chegar de Laodicéia" (Cl 4.16). A fim de que isso pudesse acontecer, é provável que uma cópia das cartas para Colossos e Laodicéia tivesse de ser feita. À medida que esta prática se ampliou, é fácil ver que, dentro de poucos anos, coleções das cartas de Paulo poderiam ser obtidas.
O Novo Testamento sugere uma distribuição bastante ampla desses escritos. João recebeu instruções: "que me disse: Escreva num livro o que você vai ver e mande esse livro às igrejas que estão nestas sete cidades: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia" (Ap 1.11). A Epístola de Tiago foi dirigida ao povo de Deus do mundo inteiro: "Eu, Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, envio saudações a todo o povo de Deus espalhado pelo munto inteiro" (Tg 1.1). A primeira Epístola de Pedro foi escrita ao povo de Deus que vivia espalhados nas provícias: "Eu, Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, escrevo esta carta ao povo de Deus que vive espalhado nas províncias do Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia" (1 Pe 1.1). Existe uma forte possibilidade de uma compilação primitiva de um cânon no Novo Testamento a ser reconhecido num mesmo plano que as escrituras do Antigo Testamento.
Pedro recomenda: "Lembrem que a paciência do nosso Senhor é uma oportunidade para vocês serem salvos. Pois o nosso querido irmão Paulo, com a sabedoria que Deus lhe deu, escreveu a vocês sobre esse assunto. E foi isso mesmo que ele disse em todas as suas cartas quando escreveu a respeito disso. Nas cartas dele há algumas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e os fracos na fé explicam de maneira errada, como fazem também com outras partes das Escrituras Sagradas. E assim eles causam a sua própria destruição" (2 Pe 3.15-16).
Durante os primeiros anos do século II, começou a fazer-se sentir a influência dos Pais da Igreja. Tratava-se de estudantes talentosos, professores e líderes da igreja. Em suas cartas às primeiras igrejas, eles faziam inúmeras citações dos livros que viriam a tornar-se o cânon do Novo Testamento. Essas cartas dão um testemunho definido do valor do livro que citavam, colocando-o em posição superior às suas próprias palavras. Por estranho que pareça, um conhecido herege, o gnóstico Márcion (140 A.D.), foi utulizado para inspirar o reconhecimento de alguns dos livros do Novo Testamento, especialmente as epístolas de Paulo. Márcion compilou seu próprio cânon, incluindo o Evangelho de Lucas e dez das epístolas pastorais, Hebreus, Marcos, João, Atos, as epístolas gerais e Apocalipse. Sua atitude deu lugar a muitas críticas e a um estudo mais profundo dos livros que rejeitara. No final do século II, 20 dos 27 livros do Novo Testamento foram reconhecidos como canônicos. Os sete livros que não receberam completo reconhecimento na época são os seguintes: Hebreus, 2 e 3 João, 2 Pedro, Judas, Tiago e Apocalipse.
Um impulso adicional no sentido de formar um cânon definitivo do Novo Testamento surgiu em vista das perseguições ordenadas pelo imperador Diocleciano (302-305), que ordenou que as Escrituras fossem queimadas. Tornou-se assim necessário determinar quais livros eram considerados como Escritura. Os cristãos precisavam decidir por quais livros valia a pena sofrer e morrer. A questão do cânon teve um significado sério e prático. Vinte e cinco anos depois das perseguições de Diocleciano, Constantino, o novo imperador, abraçara o cristianismo e ordenara a Eusébio, bispo de Cesaréia e historiador da igreja, que preparasse e distribuísse 50 cópias do Novo Testamento. Foi assim necessário decidir quais livros deveriam ser incluídos.
Não é difícil compreender que, na ocasião em que o cânon estava sendo considerado, havia muitos livros que reclamariam exame. Estes escritos eram geralmente divididos nos assim chamados pseudopígrafos e apócrifos. No primeiro está incluído um grupo de livros adulterados e heréticos, considerados como escritos falsos. Eles praticamente não foram reconhecidos por qualquer concílio nem citados pelos Pais da Igreja. Muitas doutrinas heréticas, tais como as defendidas pelos gnósticos, que negavam a encarnação de Jesus; pelos céticos, que negavam a realidade da humanidade de Jesus; e pelos monofisistas, que rejeitavam a dualidade da natureza de Jesus, são encontradas nestes livros. Mais de 280 deles foram citados, reunidos sob os títulos: Evangelhos, Atos, Epístolas, Apocalipses e outros. Geisler e Nix declaram: "Quaisquer fragmentos de verdades neles preservados são obscurecidos tanto pela sua fantasia religiosa como por suas tendências heréticas. Os livros não só deixaram de ser canônicos, como também é pequeno seu valor com fins religiosos ou devocionais. Seu principal mérito é histórico, revelando as crenças de seus criadores."
Os livros citados como os apócrifos do Novo Testamento eram aqueles tidos em alta estima pelo menos por um dos Pais da Igreja. Embora contenham muita informação útil relativa à história da Primeira Igreja, jamais foram aceitos no cânon do Novo Testamento. Alguns dos mais populares entre eles são: Epístola de Barnabé (70-79), Terceira Epístola aos Coríntios (96), O Pastor de Hermas (115-140), Ensino Didakê dos Doze (100-120), Epístola aos Laodicenses (sec. IV?), Epístola de Policarpo aos Filipenses (108) e as Sete Epístolas de Inácio (110).
Atanásio (nascido cerca de 298 A.D.), em uma de suas epístolas pastorais, menciona os 27 livros do Novo Testamento como Escritura. No terceiro concílio de Cartago (397), as igrejas cristãs ocidentais estabeleceram a forma final do cânon do Novo Testamento. Desse modo, no final do século IV, os 27 livros foram aceitos. Geisler e Nix concluem: "Uma vez que as discussões resultaram no reconhecimento dos 27 livros canônicos do cânon do Novo Testamento, não houve movimento no cristianismo nem para acrescentar, nem para anular qualquer coisa nele."
4.4. Testes usados para determinar a canonicidade
Os seguintes princípios foram usados para determinar a posição de um livro no cânon:
a) Apostolicidade O livro foi escrito por um apóstolo, ou por alguém associado de perto com os apóstolos? Esta questão tinha especial importância com respeito a Marcos, Lucas, Atos e Hebreus, já que Marcos e Lucas não se encontravam entre os doze e a autoria de Hebreus era desconhecida.
b) Conteúdo espiritual O livro estava sendo lido nas igrejas e seu conteúdo era um meio de edificação espiritual? Este era um teste muito prático.
c) Exatidão doutrinária O conteúdo do livro era doutrinariamente correto? Qualquer livro contendo heresia, ou contrário aos livros canônicos já aceitos, era rejeitado.
d) Uso O livro fora universalmente reconhecido nas igrejas, sendo amplamente citado pelos Pais da Igreja?
e) Inspiração Divina O livro dava verdadeira evidência de inspiração Divina? "Este era o teste básico, e tudo teria que convergir para este ponto."
5. A INFALIBILIDADE DAS ESCRITURAS
5.1. Definição de infalibilidade
A infalibilidade das Escrituras significa que os escritos originais da Bíblia não continham erros. Nos idiomas originais em que foi escrita, ela é absolutamente infalível - sem erro de qualquer tipo. Esta tem sido a posição de todas as confissões das grandes igrejas evangélicas através dos anos.
Contrários a este posicionamento, ateus, agnósticos e teólogos liberais declararam que a Bíblia está repleta de erros. De fato, existem alguns que ensinam uma "infalibilidade limitada", afirmando ser a Bíblia infalível em questões de fé e prática, mas não necessariamente nos aspectos científicos e históricos. O problema desta posição é: quem decide o que é ou não é verdade? Se não for possível ter uma fé positiva na infalibilidade desse livro, como ele pode falar com autoridade final, quando se trata de questões de eternidade? Por que isto tem tamanha importância? Por que não podemos ler a Bíblia como fazemos com qualquer outro livro? Ao ler qualquer outro livro, o indivíduo aceita aquilo em que acredita e deixa de lado os pontos de que discorda. Por que não se pode fazer o mesmo com a Bíblia, como muitos estão advogando?
5.2. O testemunho da infalibilidade
5.2.1. De onde vem esta doutrina da infalibilidade?
Da própria Escritura. Ela afirma ser inspirada por Deus. "Pois toda a Escritura Sagrada é inspirada por Deus e é útil para ensinar a verdade, condenar o erro, corrigir as faltas e ensinar a maneira certa de viver" (2 Tm 3.16). "Pois nenhuma mensagem profética veio da vontade humana, nas as pessoas eram guiadas pelo Espírito Santo quando anunciavam a mensagem que vinha de Deus" (2 Pe 1.21).
a) Os escritores do Antigo Testamento são muito claros ao afirmar que estavam transmitindo a Palavra de Deus. Moisés disse: "Não acrescentem nada à lei que lhes estou dando, nem tirem dela uma só palavra. Guardem todos os mandamentos do SENHOR, nosso Deus" (Dt 4.2). O salmista chamou: "A lei do SENHOR é perfeita e nos dá novas forças. Os seus conselhos merecem confiança e dão sabedoria às pessoas simples" (Sl 19.7). Samuel declarou: "O Espírito do SENHOR fala por meio de mim, e a sua mensagem está nos meus lábios" (2 Sm 23.2). Geremias cita as palavras ditas a ele pelo Senhor: "Mas o SENHOR respondeu: Não diga que é muito jovem, mas vá e fale com as pessoas a que Eu o enviar e diga tudo o que Eu mandar. Não tenha medo de ninguém, pois Eu estarei com você para protegê-lo. Sou Eu, o SENHOR, quem está falando. Aí o SENHOR estendeu a mão, tocou nos meus lábios e disse: Veja! Eu estou lhe dando a mensagem que você deve anunciar" (Jr 1.7-9). Ezequiel conta a sua missão: "Diga-lhes tudo o que Eu mandar, quer eles lhe dêem atenção ou não. Lembre que eles são teimosos" (Ez 2.7). Cada um e todos eles declararam estar falando as palavras de Deus. O Antigo Testamento dá então testemunho a seu próprio respeito.
b) Os escritores do Novo Testamento também dão testemunho do fato de que era Deus quem falava no Antigo Testamento.
1) Nos Evangelhos: "Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito por meio do Profeta" (Mt 1.22). "Faz muito tempo que Deus disse isso por meio dos seus santos profetas" (Lc 1.70). "Pois Davi, inspirado pelo Espírito Santo, escreveu: O Senhor Deus disse ao meu Senhor: Sente-se do meu lado direito, até que Eu ponha os seus inimigos debaixo dos seus pés" (Mc 12.36).
2) Nas epístulas: Os apóstolos também deram seu testemunho quanto à perfeição das Escrituras do Antigo Testamento. Paulo afirmou que a lei vem de Deus. "Assim a lei vem de Deus; e o mandamento também vem de Deus, diz o que é certo e é bom" (Rm 7.12). O escritor de Hebreus considerava a Palavra de Deus como viva e poderosa "Pois a Palavra de Deus é viva e poderosa e corta mais do que qualquer espada afiada dos dois lados. Ela vai até o lugar mais fundo da alma e do espírito, vai até o íntimo das pessoas e julga os desejos e pensamentos delas" (Hb 4.12). Tiago descreve a Palavra como "Não se enganem; não sejam apenas ouvintes dessa mensagem, mas a ponham em prática. Porque aquele que ouve a mensagem e não a põe em prática é como uma pessoa que olha no espelho e vê como é. Dá uma boa olhada, depois vai embora e logo esquece a sua aparência. O evangelho é a lei perfeita que dá liberdade às pessoas. Se alguém examina bem essa lei e não a esquece, mas a põe em prática, Deus vai abençoar tudo o que essa pessoa fizer" (Tg 1.22-25). João encerra a revelação escrita com as palavras: "Eu, João, aviso solenemente aos que ouvem as palavras proféticas deste livro: se alguma pessoa acrescentar a elas alguma coisa, Deus acrescentará ao castigo dela as pragas descritas neste livro. E, se alguma pessoa tirar alguma coisa das palavras proféticas deste livro, Deus tirará dela as bênçãos descritas neste livro, isto é, a sua parte da fruta da árvore da vida e também a sua parte da Cidade Santa" (Ap 22.18-19).
De maneira que "Não acrescentem nada à lei que lhes estou dando, nem tirem dela uma só palavra. Guardem todos os mandamentos do SENHOR, nosso Deus. Obedeçam a todas as leis que eu estou dando a vocês, sem acrescentar nem tirar nada" (Dt 4.2; 12.32), Deus adverte contra a alteração da sua Palavra, acrescentando ou retirando qualquer coisa da sua mensagem.
c) O próprio Jesus deu testemunho da Escritura. Ele confirmou especificamente todo o Antigo Testamento, no qual não encontrou um único erro ou inconsistência. Baseou continuamente seus argumentos e exortações sobre ele. Jesus afirmou: "Eu afirmo a vocês que isto é verdade: enquanto o céu e a terra durarem, nada será tirado da lei - nem a menor letra, nem qualquer acento. E assim será até o fim de todas as coisas" (Mt 5.18). Ao discutir sobre uma única palavra com os judeus, Ele disse: "Sabemos que as Escrituras Sagradas sempre dizem a verdade, e sabemos que, de fato, Deus chamou de deuses aqueles que receberam a sua mensagem" (Jo 10.35). E ainda "Depois disse: Enquanto ainda estava com vocês, Eu disse que tinha de acontecer tudo o que estava escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos livros dos Profetas e nos Salmos" (Lc 24.44). Essas três seções abrangem o Antigo Testamento inteiro.
Jesus referiu-se a inúmeros personagens e acontecimentos do Antigo Testamento, dando assim testemunho da sua autenticidade e autoridade. É interessante notar, pela lista seguinte, que Jesus colocou seu selo de aprovação sobre alguns dos eventos e milagres do Antigo Testamento que sempre foram muito questionados pelos críticos. Ele aprovou a narração do seguinte:
* O casamento "E Deus disse: Por isso o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir com a sua mulher, e os dois se tornam uma só pessoa" (19.5).
* O dilúvio e a barca de Noé "Todos comiam e bebiam, e os homens e as mulheres casavam, até o dia em que Noé entrou na barca. Depois veio o dilúvio e matou todos" (Lc 17.27).
* A destruição de Sodoma "No dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre e matou todos" (Lc 17.29).
* A destruição de Tiro e Sidom "Ai de você, cidade de Corazim! Ai de você, cidade de Betsaida! Porque, se os milagres que foram feitos em vocês tivessem sido feitos nas cidades de Tiro e de Sidom, os seus moradores já teriam abandonado os seus pecados há muito tempo. E, para mostrarem que estavam arrependidos, teriam vestido roupa feita de pano grosseiro e teriam jogado cinzas na cabeça! Pois Eu afirmo a vocês que, no Dia do Juízo, Deus terá mais pena de Tiro e de Sidom do que de vocês, Corazim e Betsaida" (Mt 11.21-22).
* A circuncisão "Vocês circuncidam um menino até no sábado porque Moisés mandou fazer isso. Mas a verdade é que a circuncisão não começou com Moisés, mas com os patriarcas" (Jo 7.22).
* A Páscoa "Vocês sabem que daqui a dois dias vai ser comemorada a Festa da Páscoa, e o Filho do Homem será entregue para ser crucificado" (Mt 26.2).
* A Lei "Foi Moisés quem deu a Lei a vocês, não foi? No entanto nenhum de vocês obedece à Lei. Por que é que vocês estão querendo Me matar?" (Jo 7.19).
* A lei do divórcio "Os fariseus perguntaram: nesse caso, por que é que Moisés permitiu ao homem mandar a sua esposa embora se der a ela um documento de divórcio? Jesus respondeu: Moisés deu essa permissão por causa da dureza do sentimento de vocês; mas no princípio da criação não era assim. Portanto, eu afirmo a vocês o seguinte: o homem que mandar a sua esposa embora, a não ser em caso de adultério, se tornará adúltero se casar com outra mulher" (Mt 19.7-9).
* O espinheiro que estava em fogo "Vocês nunca leram no Livro de Moisés o que está escrito sobre a ressurreição? Quando fala do espinheiro que estava em fogo, está escrito que Deus disse a Moisés: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó" (Mc 12.26).
* O símbolo de Jonas e o grande peixe "Porque assim como Jonas ficou três dias e três noites dentro de um grande peixe, assim também o Filho do Homem ficará três dias e três noites no fundo da terra" (Mt 12.40).
* O arrependimento do povo de Níneve "No Dia do Juízo o povo de Nínive vai se levantar e acusar vocês, pois eles se arrependeram dos seus pecados quando ouviram a pregação de Jonas. E Eu afirmo que O que está aqui é mais importante do que Jonas" (Mt 12.41).
* A riqueza de Salomão "Mas Eu afirmo a vocês que nem mesmo Salomão, sendo tão rico, usava roupas tão bonitas como essas flores" (Mt 6.29).
* A sabedoria de Salomão "No Dia do Juízo a Rainha de Sabá vai se levantar e acusar vocês, pois ela veio de muito longe para ouvir os sábios ensinamentos de Salomão. E Eu afirmo que O que está aqui é mais importante do que Salomão" (Mt 12.42).
* Davi comeu os pães oferecidos a Deus "Davi entrou na casa de Deus, e ele e os seus companheiros comeram os pães oferecidos a Deus, embora isso fosse contra a Lei. Pois somente os sacerdotes tinham o direito de comer esses pães" (Mt 12.4).
* Os sacerdotes quebraram a Lei "Ou vocês não leram na Lei de Moisés que, nos sábados, os sacerdotes quebraram a Lei, no Templo, e não são culpados?" (Mt 12.5).
* Elias, quando não choveu durante três anos e meio "Eu digo a vocês que, de fato, havia muitas viúvas em Israel no tempo do profeta Elias, quando não choveu durante três anos e meio, e houve uma grande fome em toda aquela terra" (Lc 4.25).
* Leprosos em Israel no tempo do profeta Eliseu "Havia também muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi curado. Só Naamã, o sírio, foi curado" (Lc 4.27).
* Moisés e a cobra de bronze "Assim como Moisés, no deserto, levantou a cobra de bronze numa estaca, assim também o Filho do Homem tem de ser levantado, para que todos os que crerem nEle tenham a vida eterna" (Jo 3.14-15).
* A morte de Abel e Zacarias "Por isso Deus castigará vocês pela morte de todas as pessoas inocentes que os antepassados de vocês mataram, desde a morte do inocente Abel até a de Zacarias, filho de Baraquias, que vocês mataram entre o Templo e o altar" (Mt 23.35).
* A missão de Jesus "Jesus foi para a cidade de Nazaré, onde havia crescido. No sábado, conforme o seu costume, foi até a sinagoga. Ali Ele se levantou para ler as Escrituras Sagradas, e Lhe deram o livro do profeta Isaías. Ele abriu o livro e encontrou onde está escrito assim: O Senhor Me deu o Seu Espírito. Ele Me escolheu para levar boas notícias aos pobres e Me enviou para anunciar a liberdade aos presos, dar vista aos cegos, libertar os que estão sendo oprimidos e anunciar que chegou o tempo em que o Senhor salvará o seu povo. Jesus fechou o livro, entregou-o para o ajudante da sinagoga e sentou-Se. Todas as pessoas ali presentes olhavam para Jesus sem deviar os olhos. Então Ele começou a falar. Ele disse: hoje se cumpriu o trecho das Escrituras Sagradas que vocês acabam de ouvir" (Lc 4.16-21).
5.2.2. A Bíblia é uma revelação original da verdade
A Bíblia é uma revelação de verdades as quais o ser humano só pode conhecer pelo que ela diz. O ser humano pergunta: Quem sou? De onde vim? Para onde estou indo? O que dizer sobre imortalidade, céu, inferno, Juízo, eternidade? O que o ser humano sabe, o que pode saber fora da Bíblia? Muitos estão virtualmente fazendo seu próprio deus. De que serve um deus feito por mãos humanas? Não há necessidade dele. Se o ser humano pode fazê-lo, ele é então maior que o seu deus e portanto não precisa dele. Ninguém, nem nação alguma, já revelou um deus como o Deus das Sagradas Escrituras. Chafer diz que a Bíblia é infinita porque encerra verdades sobre o Deus infinito, a santidade infinita, o pecado infinito e a rendenção infinita. Ela parece provar que é infinita porque "mente humana alguma compreendeu inteiramente a sua mensagem ou mediu os seus valores". O cristão não se envergonha absolutamente por não poder explicar tudo sobre Deus. Deus não seria Deus se isso fosse possível. Ninguém adora o que compreende. Só quando alguém ultrapassa as fronteiras de sua própria compreensão é que inclina a cabeça e levanta as mãos em adoração.
Quem é Jesus? Como Ele é? Será que Ele pode fazer algo pela humanidade? Ele tem algo vital a transmitir à humanidade? O bem-estar eterno do espírito humano depende realmente dEle? Alguns argumentariam que não devemos preocupar-nos com a infalibilidade da Bíblia - apenas sigamos Jesus! Alguns professores liberais afirmaram: "Só Cristo é a Palavra de Deus! Cremos sem reservas na Palavra de Deus, mas só Jesus é a Palavra." Isto parece muito piedoso, mas o que o ser humano sabe sobre Jesus independente daquilo que a Bíblia revela? Nossa fonte total de informação sobre Ele está nesse livro. Se não pudermos depender da Palavra para informação sobre outras coisas, como podemos estar seguros de que ela é exata naquilo que nos conta sobre Jesus?
5.2.3. A Bíblia é uma revelação imutável
Muito da incerteza e incredulidade a respeito da Bíblia partiu dos chamados cientistas. Em vista de a infalibilidade da Bíblia encontrar-se no nível dos fatos observáveis, os céticos e letrados incrédulos são os mais propensos a atacá-la. A ciência assumiu uma aura de autoridade e quase infalibilidade. Muitos fizeram dela praticamente um deus. O termo "ciência" significa apenas "conhecimento", e ela não deve ser adorada nem temida. O ponto significativo sobre a ciência é que ela tem tido necessidade de mudar as suas conclusões à medida que novos fatos surgem. Os textos científicos ficam rapidamente obsoletos, enquanto a Bíblia não teve de ser alterada em nada, no decorrer de milhares de anos desde que foi escrita. Por que duvidar de um livro que resistiu aos séculos e a todos os ataques feitos contra ele, aceitando ciências que necessitam ser revistas a cada passo? A Bíblia não é um manual científico, mas jamais foi provado que contenha qualquer fato científico falso. O relato da criação em Gênesis continua de pé.
5.2.4. A Bíblia é exata moral e espiritualmente
Mais importante que tudo, a Bíblia é exata moral e espiritualmente. Não é no domínio científico que a Bíblia demonstra sua maior exatidão, mas no campo moral-espiritual. Myer Pearlman termina sua seção de bibliologia com as palavras: "As defesas intelectuais da Bíblia têm seu lugar; mas, acima de tudo, o melhor argumento é o prático. A Bíblia tem produzido resultados práticos. Tem influenciado a civilização, transformado vidas, trazido luz, inspiração e conforto a milhões. E sua obra ainda continua."
6. A INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS
A Bíblia é um livro sem erros e infalível - um livro de palavras, frases e orações que, como escrito originalmente, não contém forma alguma de erro. Este livro foi escrito pelo ser humano - O ser humano com todo o potencial para entender mal, interpretar mal, com sua falta de memória e até com a possibilidade de falsificação maliciosa. Todavia, é declarado que tudo o que ele escreveu não contém qualquer evidência dessas fraquezas naturais. Não só foi afirmado que tudo que escreveu estava perfeitamente correto - nada deve ser removido do registro - mas támbem que não deixou de escrever nada do que deveria ser dito - nada deve ser acrescentado. Não é fácil crer que tal coisa fosse possível a um ser humano. Isto, porém, foi realizado através de mais de quarenta homens diferentes, que viveram em um período de mais de 1.500 anos; e muitos deles nunca se viram ou conversaram um com o outro; no entanto, seus escritos estão sempre de acordo. Só um milagre muito grande, poderia fazer com que isto acontecesse. Como pode tal coisa ser possível? Através do mistério e milagre da inspiração Divina!
6.1. Definição de inspiração
A Bíblia revela a fonte de sua magnificiência: "Toda Escritura é inspirada por Deus." Isto não significa que Deus "inspirou" os escritores, mas que a palavra foi produzida pelo sopro criativo de Deus.
"O termo grego nesta passagem, theopneustos, não significa distintamente `inspirado por Deus` ...(não tem)... nada a ver com respeito a inspirador ou inspiração. A Escritura não diz que ela é soprada por Deus ou que é o produto do sopro Divino em seus autores humanos, mas que é exalada por Deus, `soprada por Deus`, o produto do fôlego criativo de Deus. Numa palavra, esta passagem fundamental declara simplesmente que as Escrituras são um produto Divino, sem qualquer indicação de como Deus operou na sua produção. No entanto, não poderia ter sido produzido qualquer outro termo que enfatizasse melhor a produção Divina das Escrituras que o empregado. O `sopro` de Deus, na Escritura, é apenas o símbolo do seu poder Onipotente, o portador de sua palavra criativa."
6.2. Diferenças entre revelação, inspiração e iluminação
A revelação é o ato de Deus mediante o qual Ele comunica diretamente a verdade antes desconhecida para a mente humana - verdade que não poderia ser conhecida de qualquer outra maneira. A inspiração está ligada à comunicação da verdade. Evans declara: "A revelação descobre novas verdades, enquanto a inspiração supervisiona a comunicação destas verdades."
Nem todo o conteúdo da Bíblia foi diretamente revelado aos seres humanos. Ela contém registros históricos e muitas observações pessoais. Estamos seguros, porém, de que este registro é verídico. O Espírito Santo dirigiu e influenciou os escritores, a fim de que, por inspiração, não cometessem qualquer erro de verdade ou doutrina. A Bíblia registra as palavras e os atos de Deus, dos seres humanos e do diabo. É de suma importância verificar cuidadosamente quem está falando. Evans diz: "Apesar de toda Escritura ser inspirada, ela não sela com autoridade Divina toda frasw que registra como pronunciada pelos seres humanos de quem fala, nem tampouco marca com a aprovação Divina cada ato que descreve como realizado por aqueles cujas biografias apresenta. No livro de Jó, por exemplo, a inspiração dá com igual exatidão a linguagem de Jeová, as palavras de Satanás e os discursos de Jó e seus três amigos. Não coloca, porém, todos no mesmo nível de autoridade. Cada orador é responsável pelos seus próprios pronunciamentos. Nem Satanás, nem Jó, nem seus três amigos falaram por inspiração de Deus. Eles expressaram suas próprias opiniões. Tudo o que a inspiração assegura é que nenhum deles é mal representado, mas que cada um manifestou os sentimentos que lhe foram atribuídos na Escritura."
Alguns confundem inspiração com iluminação. A imuminação se refere à influência do Espírito Santo, comum a todos os cristãos, que os ajuda a entender as coisas de Deus. "Mas quem não tem o Espírito de Deus não pode receber os dons que vêm do Espírito e, de fato, nem mesmo pode entendê-los. Essas verdades são loucura para essa pessoa porque o sentido delas só pode ser entendido de modo espiritual" (1 Co 2.14). Esta iluminação das coisas espirituais é prometida a todos os crentes e pode ser experimentada por eles. "Naquele momento, pelo poder do Espírito Santo, Jesus ficou muito alegre e disse: ó Pai, Senhor do céu e da terra, Eu Te agradeço porque tens mostrado às pessoas sem instrução aquilo que escondeste dos sábios e dos instruídos. Sim, ó Pai, Tu tiveste prazer em fazer isso" (Lc 10.21). Pedro cita um exemplo interessante em que os profetas receberam inspiração para registrar verdades, mas não lhes foi outorgada iluminação para compreender o sentido exato do que profetizavam. "Foi a respeito dessa salvação que os profetas perguntaram e procuraram saber com muito cuidado. Eles profetizaram a respeito da salvação que Deus ia dar a vocês e procuraram saber em que tempo e como essa salvação ia acontecer. O Espírito de Cristo, que estava neles, indicava esse tempo, ao predizer os sofrimentos que Cristo teria de suportar e a glória que viria depois. Quando os profetas falaram a respeito das verdades que vocês têm ouvido agora, Deus revelou a eles que o trabalho que faziam não era para o benefício deles, mas para o bem de vocês. Os mensageiros do evangelho, que falaram pelo poder do Espírito Santo, mandado do céu, anunciaram a vocês essas verdades. Essas são coisas que até os anjos gostariam de entender" (1 Pe 1.10-12).
Alguns tentam explicar a inspiração das Escrituras como resultado desta experiência de iluminação. Eles afirmam existir dentro do ser humano aquela centelha de luz divina que só precisava ser ativada, por assim dizer, a fim de capacitar os homens da antigüidade a escreverem a Bíblia. Myer Pearlman indica duas diferenças específicas entre iluminação e inspiração.
"(1) Quanto à duração, a iluminação é, ou pode ser, permanente. A unção do Espírito Santo recebida pelo crente habita nele, diz João. "Mas sobre vocês Cristo tem derramado o seu Espírito. Enquanto o seu Espírito estiver em vocês, não é preciso que ninguém os ensine. Pois o Espírito ensina a respeito de tudo, e os seus ensinamentos não são falsos, mas verdadeiros. Portanto, obedeçam aos ensinamentos do Espírito e continuem unidos com Cristo" (1 Jo 2.27). Por outro lado, a inspiração também era intermitente; o profeta não podia profetizar por sua própria vontade, mas estava sujeito à vontade do Espírito. "Pois nenhuma mensagem profética veio da vontade humana, mas as pessoas eram guiadas pelo Espírito Santo quando anunciavam a mensagem que vinha de Deus" (2 Pe 1.21).
(2) A iluminação admite gradação, a inspiração não. As pessoas variam no que diz respeito à iluminação, possuindo algumas um grau maior de discernimento que outras. Mas no caso da inspiração, no sentido bíblico, o indivíduo é ou não inspirado."
6.3. Significado de inspiração
O que a palavra "inspiração" significa realmente, quando aplicada à Bíblia? Nem todos os eclesiásticos estão de acordo, infelizmente. Existem, portanto, várias teorias sobre a inspiração.
6.3.1. Conceito liberal de inspiração
O teólogo liberal expressa seu ponto de vista especialmente na declaração: "A Bíblia contém a Palavra de Deus." Isto sugere que ela contém igualmente uma combinação variada das palavras dos homens inspirados. Sua posição pode ser exposta como segue: em certos lugares, no livro, encontram-se revelações dadas algumas vezes por Deus a homens piedosos, da mesma forma como Ele ilumina hoje a mente dos homens que discernem as verdades Divinas. A Bíblia seria uma espécie de álbum religioso composto de histórias, lendas, genealogias e poemas de amor, classificados, arranjados e sem qualquer consideração pela perfeição cronológica. O perigo deste ponto de vista é colocar nas mãos do ser humano finito, frágil e falível o poder de determinar o que e quando Deus está falando. Desse modo, outorga-se ao ser humano poder sobre a Verdade Infinita, em vez de sujeitar-se a ela.
6.3.2. Conceitos neo-ortodoxos de inspiração
Estes podem ser resumidos pela declaração: "A Bíblia se converte na Palavra de Deus." Vamos considerar dois dos conceitos neo-ortodoxos:
a) O ponto de vista existencial popularizado por Barth. Este reconhece que existem muitos erros humanos e imperfeições na Bíblia - mesmo nos originais. Mas a Bíblia se converte na Palavra de Deus quando Ele decide usar este canal imperfeito para confrontar o ser humano com sua Palavra perfeita. Isto é realizado mediante um encontro pessoal com o ser humano, através de um ato de revelação por parte de Deus. Nesta experiência existencial - encontro crítico - as palavras sem sentido saltam da página da Bíblia para falar concreta e significativamenteao ser humano. Nesse "momento de significado", a Bíblia torna-se a Palavra de Deus para o crente.
b) O conceito demitologizante de Bultmann e Neibuhr. A Bíblia deve ser despojada do mito religioso a fim de ser possível chegar ao amor sacrificial de Deus em Cristo. É preciso olhar, através e além do registro histórico, com todo o seu mito e erro, para o evento supra-histórico. Eventos tais como a queda do ser humano, a crucificação e a ressureição não são necessariamente objetos de histórias verificáveis e objetivos. A Bíblia torna-se, portanto, uma revelação quando, mediante a interpretação adequada (demitológica), o indivíduo é confrontado com o amor absoluto, como apresentado no "mito" do amor desinteressado de Deus em Cristo.
Como, perguntamos nós, pode o escritor do evangelho estar errado em uma área como a da história, em que podemos verificar, e certo na área de doutrina, onde não há possibilidade de verificação? Esses homens recusam-se a crer que Deus operou o milagre de nos dar, por inspiração, uma Bíblia infalível, mas estão prontos a crer que Deus opera diariamente o milagre maior de capacitar os seres humanos a descobrirem e verem, nas palavras falíveis dos seres humanos, as palavras infalíveis de Deus. É muito difícil entender por que Deus utulizaria o erro para ensinar-nos a verdade.
Novamente, como um simples crente pode ter fé num livro quando lhe é dito que o mesmo só é parcialmente verídico? Dizem-lhe para classificar seu conteúdo e guardar o que é bom. Mas como poderá ele classificar as páginas da Bíblia como inspiradas, parcialmente inspiradas ou não inspiradas? Com que autoridade teria condições de afirmar que isto ou aquilo não é a mente de Deus? Tentar decidir o que não é seria colocar-se acima das Escrituras e perder inteiramente a mensagem Divina. Como foi sugerido antes, existe nesses conceitos uma confusão entre revelação e iluminação. A Bíblia não é simplesmente a Palavra de Deus quando o ser humano a ouve e compreende. É Deus falando, quer o ser humano escute ou não. A Bíblia declara ser a Palavra de Deus. Qualquer outra posição é inteiramente contrária à Bíblia.
Alguns que afirmam ser evangélicos em nossos dias ensinam que a Bíblia contém muitos erros históricos e científicos. Todavia, eles rapidamente nos asseguram que em questões relativas ao plano de salvação ela é completamente infalível. Como pode alguém ter certeza de que a Bíblia é exata no que diz respeito a assuntos soteriológicos, quando está errada nos fatos históricos e científicos? Isso faz parecer que os seres humanos, e não Deus, é que estão nos dizendo no que devemos crer. Se a Bíblia não é inteiramente inequívoca, totalmente infalível, a sua mensagem não possui então autoridade final.
Embora os liberais argumentam que a Bíblia simplesmente contém a Palavra de Deus, e os neo-ortodoxos afirmem que a Bíblia se converte na Palavra de Deus num `momento de significado" existencial, a posição ortodoxa ou conservadora é que a Bíblia é a Palavra de Deus.
6.3.3. Conceitos conservadores
A Bíblia é a Palavra de Deus. Todavia, há na escola conservadora uma divergência de opinião ao que a inspiração representa. Existem assim as seguintes teorias conservadoras de inspiração:
a) Teoria do ditado verbal. Esta teoria afirma que cada palavra, atpe mesmo a pontuação, é ditada por Deus, do mesmo modo que um executivo ditaria uma carta à sua secretária. Isto é freqüentemente chamado de "inspiração mecânica" ou "ditado verbal". Os fundamentalistas são muitas vezes acusados de aceitar este método de inspiração, mas apenas uma pequena porcentagem deles faz isso. A grande fraqueza desta teoria é eliminar qualquer possibilidade de um estilo pessoal nos escritos do autor divinamente escolhido - um fenômeno claramente observável.
b) Teoria do conceito inspirado. Num esforço para compensar os perigos da teoria do ditado verbal, alguns conservadores adotaram a idéia de que Deus deu pensamentos aos homens escolhidos e deixou que eles os registrassem em suas próprias palavras. Assim sendo, somente os pensamentos, e não as palavras, são inspirados. Isto foi chamado de "inspiração dinâmica", explicando a humanidade da Bíblia, mas enfraquecendo a sua divindade. A teoria mecânica deifica o aspecto humano da Bíblia, enquanto a teoria dinâmica humaniza a divindade.
c) O conceito verbal e de inspiração plena. Este ponto de vista sustenta que todas as palavras escritas são inspiradas por Deus "Pois toda a Escritura Sagrada é inspirada por Deus e é útil para ensinar a verdade, condenar o erro, corrigir as faltas e ensinar a maneira certa de viver" (2 Tm 3.16). "Verbal" significa as palavras, e "pleno" significa "inteiro" ou "completo", contrário a parcial. Afirma-se, portanto, que as palavras em si, e todas elas, são inspiradas. Deus deu completa expressão aos seus pensamentos nas palavras do registro bíblico. Ele guiou a própria escolha das palavras usadas de acordo com a personalidade e o contexto cultural dos escritores; de maneira que, de algum modo inescrutável, a Bíblia é a Palavra de Deus, apesar de conter palavras humanas.
A inspiração é então o processo pelo qual homens movidos pelo Espírito Santo produziram escrituras inspiradas pelo Espírito.
Há que se reconhecer que estamos aqui numa área de mistério. Exatamente como a inspiração infalível chegou a acontecer è algo que as mentes finitas não conseguem compreender. Não se pode negar a existência de um lado divino no processo. Mas fica igualmente claro haver um aspecto humano. Deus usou homens. Reconhecemos ambos os elementos, mas não conseguimos conciliá-los. Talvez a melhor ilustração seja a encarnação de Jesus Cristo. Jesus tem tanto uma natureza Divina como humana. A Escritura possui também um aspecto celestial e outro terreno. Tanto em Jesus como na Escritura o lado humano é perfeito, assim como o Divino. É errado procurar diluir a natureza Divina de Jesus, a fim de compreender sua natureza humana, como fizeram os arianos. Igualmente errado é sacrificar sua verdadeira natureza humana para poder explicar que Ele é Divino, como fizeram os docéticos. É, portanto, incorreto negar que as palavras da Escritura sejam de natureza tanto humana como divina.
O engano está em tentar explicar o inexplicável e sondar o insondável. Os meios ou o processo de inspiração são um mistério da providência de Deus, mas os resultados deste processo são um registro verbal (as palavras), pleno (estendendo-se igualmente a todas as partes), infalível (sem erros) e com autoridade.
7. OS SÍMBOLOS DAS ESCRITURAS
A Bíblia emprega muitas vezes linguagem simbólica em seus ensinos. A verdade espiritual pode ser freqüentemente transmitida com mais realidade por meio de símbolos que produzem uma imagem na mente humana. Existem, vários símbolos utilizados através das Escrituras com esta finalidade. Damos uma lista dos mais comuns:
a) Espelho - "Porque aquele que ouve a mensagem e não a põe em prática é como uma pessoa que olha no espelho e vê como é. Dá uma boa olhada, depois vai embora e logo esquece a sua aparência. O evangelho é a lei perfeita que dá liberdade às pessoas. Se alguém examina bem essa lei e não a esquece, mas a põe em prática, Deus vai abençoar tudo o que essa pessoa fizer" (Tg 1.23-25).
b) Semente - "Certo homem saiu para semear. E, quando estava espalhando as sementes, algumas caíram na beira do caminho, onde foram pisadas pelas pessoas e comidas pelos passarinhos. Outras sementes caíram num lugar onde havia muitas pedras, e, quando começaram a brotar, as plantas secaram porque não havia umidade. Outra parte caiu no meio de espinhos, que cresceram junto com as plantas e as sufocaram. Mas algumas sementes caíram em terra boa. As plantas cresceram e produziram cem grãos para cada semente. E Jesus terminou, dizendo: quem quiser ouvir, que ouça!" (Lc 8.5-8)
c) Lâmpada e Luz - "A tua palavra é lâmpada para guiar os meus passos, é luz que ilumina o meu caminho" (Sl 119.105).
d) Fogo e Marreta - "A minha mensagem é como fogo, é como a marreta que quebra grandes pedras. Sou Eu, o SENHOR, quem está falando" (Jr 23.29).
e) Espada - "Pois a Palavra de Deus é viva e poderosa e corta mais do que qualquer espada afiada dos dois lados. Ela vai até o lugar mais fundo da alma e do espírito, vai até o íntimo das pessoas e julga os desejos e pensamentos do sentimento delas" (Hb 4.12).
f) Mel - "Como são doces as tuas palavras! São mais doces do que o mel" (Sl 119.103).
7.1. O ESPÍRITO SANTO E AS ESCRITURAS
A inspiração justifica a infalibilidade e esta prova a inspiração. Este milagre de inspiração infalível aparece como sendo ministério do Espírito Santo, o qual poderia ser perfeitamente o maior de todos os ministérios em que o Espírito está envolvido. Todos os crentes cheios do Espírito conheceram, até certo ponto, o milagre da inspiração Divina pelo Espírito Santo, mas jamais até o extremo experimentado pelos escritores bíblicos.
O movimento pentecostal tem sido acusado de ser um movimento centrado na experiência, como de fato é! Mas é também um movimento centrado na Bíblia. É maravilhoso ver como o Espírito Santo e a Palavra escrita estão sempre de perfeito acordo. Deve ser assim, porque a Palavra é o resultado da inspiração do Espírito. A seguinte lista de referências, onde o Espírito Santo e a Palavra são mencionados juntos, ilustra a importância de reconhecer o ministério tanto do Espírito como da Palavra e demonstra a harmonia entre a Palavra e o Espírito:
* "O Espírito do SENHOR fala por meio de mim, e a sua mensagem está nos meus lábios" (2 Sm 23.2).
* "O SENHOR diz ao seu povo: esta é a aliança que vou fazer com vocês: o meu Espírito, que Eu lhes dei, e os meus ensinamentos, que Eu lhes entreguei, ficarão com vocês para sempre. Vocês os ensinarão aos seus filhos e aos seus descendentes, agora e para sempre. Eu, o SENHOR, falei" (Is 59.21).
* "Depois disso, o anjo mandou que eu entregasse a Zorobabel a seguinte mensagem de Deus, o SENHOR. Não será por meio de um poderoso exército nem pela sua própria força que você fará o que tem de fazer, mas pelo poder do meu Espírito. Sou Eu, o SENHOR Todo-Poderoso, quem está falando" (Zc 4.6).
* "Jesus respondeu: como vocês estão errados, não conhecendo nem as Escrituras Sagradas nem o poder de Deus" (Mt 22.29).
* "AQuele que Deus enviou diz as Palavras de Deus porque Deus dá do Seu Espírito sem medida" (Jo 3.34).
* "Meus irmãos, tinha de acontecer aquilo que o Espírito Santo, por meio de Davi, disse nas Escrituras Sagradas a respeito de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam Jesus" (At 1.16).
* "Quando terminaram de fazer essa oração, o lugar onde estavam reunidos tremeu. Então todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a anunciar corajosamente a Palavra de Deus" (At 4.31).
* "Barnabé e Saulo, tendo sido enviados pelo Espírito Santo, foram até a cidade de Selêucia e dali embarcaram para a ilha de chipre. Quando chegaram à cidade de Salamina, começaram a anunciar a Palavra de Deus nas sinagogas. E eles tinham João Marcos para ajudá-los no trabalho missionário" (At 13.4-5).
* "Portanto, quando falamos, nós usamos palavras ensinadas pelo Espírito de Deus e não palavras ensinadas pela sabedoria humana. Assim explicamos as verdades espirituais aos que são espirituais" (1 Co 2.13).
* "Recebam a salvação como capacete e a Palavra de Deus como a espada que o Espírito Santo lhes dá" (Ef 6.17).
* "Pois nenhuma mensagem profética veio da vontade humana, mas as pessoas eram guiadas pelo Espírito Santo quando anunciavam a mensagem que vinha de Deus" (2 Pe 1.21).
Se há pessoas comprometidas com a Palavra de Deus, com certeza serão aquelas que crêem no batismo pentecostal com o Espírito Santo. Elas têm um ministério de inspiração. Crêem na profecia, no falar em outras línguas com interpretação, nas revelações inspiradas. Como se pode saber se estas vêm ou não de Deus? O fato de alguém afirmar que tem uma revelação do Senhor não significa que esta deva ser aceita como se fora de Deus. É necessário que haja uma norma, um tribunal supremo de apelação, pelo qual todas as manifestações dos dons do Espírito Santo possam ser julgadas. De fato, a Escritura recomenda que se julgue toda profecia, a qual Paulo reconhece como sendo talvez o maior entre os dons espirituais. Existe esse "tribunal de apelação" do qual podemos aproximar-nos. É a Palavra escrita, inspirada pelo Espírito Santo. Pedro a chama de mensagem profética "Assim temos mais confiança ainda na mensagem anunciada pelos profetas. Vocês fazem bem em prestar atenção nessa mensagem. Pois ela é como uma luz que brilha em lugar escuro, até que o dia amanheça e a luz da estrela da manhã brilhe no sentimento de vocês" (2 Pe 1.19). Os que ministram, não importa com que capacidade, nunca estão tão completamente "no Espírito" como quando o fazem de pleno acordo com os ensinamentos claramente revelados na Bíblia, a Palavra de Deus.
8. COMO AS ESCRITURAS CHEGARAM ATÉ NÓS
A história de como a Bíblia chegou até nós, na forma em que a conhecemos, é longa e fascinate. Ela começa com os manuscritos originais, ou "autógrafos", como são às vezes chamados. Esses textos originais foram escritos por homens da antigüidade movidos pelo Espírito Santo.
Durante anos, os céticos declararam que Moisés não poderia ter escrito a primeira parte da Bíblia porque a escrita era desconhecida na época (1500 A.C.). A ciência da arqueologia provou desde então que a escrita já era conhecida milhares de anos antes dos dias de Moisés. Os sumérios já escreviam cerca de 4000 A.C., e os egípcios e babilônios quase nessa mesma época.
8.1. Materiais antigos de escrita
a) Pedra Muitas inscrições famosas encontradas no Egito e Babilônia foram escritas em pedra. Deus deu a Moisés os Dez mandamentos escritos em tábuas de pedra. Dois outros exemplos são a Pedra Moabita (850 A.C.) e a Inscrição de Siloé, encontrada no túnel de Ezequias, junto ao tanque de Siloé (700 A.C.).
b) Argila O material de escrita predominante na Assíria e Babilônia era a argila, preparada em pequenos tabletes e impressa com símbolos em forma de cunha chamados de escrita cuneiforme, e depois assada em um forno ou seca ao sol. Milhares desses tabletes foram encontrados pelas pás dos arqueólogos.
c) Madeira Tábuas de madeira foram bastante usadas pelos antigos para escrever. Durante muitos séculos a madeira foi a superfície comum para escrever entre os gregos.
d) Couro O Talmude judeu exigia especificamente que as Escrituras fossem copiadas sobre peles de animais, sobre couro. É praticamente certo, então, que o Antigo Testamento foi escrito em couro. Eram feitos rolos, costurando juntas as peles que mediam de alguns metros a 30 metros ou mais de comprimento. O texto era escrito em colunas perpendiculares ao rolo. Os rolos, entre 26 e 70 centímetros de altura, eram enrolados em um ou dois pedaços de madeira.
e) Papiro É quase certo que o Novo Testamento foi escrito sobre papiro, por ser este o material de escrita mais importante na época. O papiro é feito cortando-se em tiras seções delgadas de cana de papiro, empapando-as em vários banhos de água, e depois sobrepondo-as umas às outras para formar folhas. Uma camada de tiras era colocada por sobre a primeira, e depois as punham numa prensa, a fim de aderirem umas às outras. As folhas tinham de 15 a 38 centímetros de altura e 8 a 23 centímetros de largura. Rolos de qualquer comprimento eram preparados colocando juntas as folhas. Geralmente mediam cerca de 10 metros de comprimento, embora tenha sido encontrado um rolo com 47 metros de comprimento.
f) Velino ou pergaminho O velino começou a predominar mediante os esforços do rei Eumenes II, de Pérgamo (197-158 A.C.). Ele procurou formar sua biblioteca, mas o rei do Egito cortou o seu suprimento de papiro, sendo-lhe então necessário obter um novo tipo de material de escrita. Fez isto aperfeiçoando um processo para o tratamento de peles. O resultado é conhecido como velino ou pergaminho. Embora os termos sejam usados intercambiavelmente, o velino era preparado originalmente com a pele de bezerros e antílopes, enquanto o pergaminho era de pele de ovelhas e cabras. Obtinha-se assim um couro de excelente qualidade, preparado especial e cuidadosamente para receber escrita de ambos os lados. Este tipo de material foi utilizado centenas de anos antes de Cristo e, por volta do século IV A.D., ele suplantou o papiro. Quase todos os manuscritos conhecidos são em velino.
8.2. O códice
O códice é um manuscrito em forma de livro, em vez de rolo. Em torno do século I ou II A.D., as folhas de material de escrita foram juntadas em forma de livro ao invés de reuni-las lado a lado para fazer um rolo. O códice era de mais fácil transporte e tornou possível manter uma qualidade muito maior de escritura num só lugar.
8.3. Instrumentos antigos de escrita
A tinta negra para escrever era preparada com fuligem ou negro de fumo e cola, diluídos em água. Os essênios, que escreveram os Rolos do Mar Morto, usavam ossos queimados de cordeiro e azeite. É notável como a escrita tão bem conservada até hoje. Os instrumentos de escrita eram um conzel para usar sobre pedra e um estilete feito de metal ou de madeira dura para uso nas tábuas de argila. Penas foram inventadas para escrever sobre o papiro ou velino. Estas eram feitas de talos ocos de grama de pasto (capim) ou bambu. O bambu seco cortado diagonalmente com uma faca, sendo bem afiado na extremidade, a qual era então fendida. A fim de manter os materiais em boas condições, os escribas portavam uma faca. Daí a palavra imglesapenknife (faca para cortar pena).
É preciso ressaltar que, tanto quanto sabemos, nenhum dos manuscritos originais existe. Alguns podem vir a ser ainda descobertos, mas isso é duvidoso. Não se encontrou até agora nenhum material dos tempos bíblicos.
8.4. Idiomas usados
A Bíblia foi escrita originalmente em três idiomas: hebraico, aramaico e grego. Essas línguas continuam sendo faladas em algumas partes do mundo contemporâneo. O hebraico é a língua oficial do Estado de Israel. O aramaico é falado por alguns cristãos nas vizinhanças da Síria. O grego, embora muito diferente daquele do Novo Testamento, é falado por milhares de pessoas hoje.
a) Hebraico Quase todos os 39 livros do Antigo Testamento foram escritos em Hebraico. As letras tipo bloco eram escritas em maiúsculas, sem vogais, sem espaços entre palavras, frases ou parágrafos, e sem pontuação. Os pontos das vogais foram acrescentados mais tarde (entre 500 e 600 A.D.) pelos eruditos massoretas. O hebraico é conhecido como um dos idiomas semíticos.
b) Aramaico Um idioma aparentado com o hebraico, o aramaico tornou-se a língua comum na Palestina depois do cativeiro babilônico (c.500 A.C.). Algumas partes do Antigo Testamento foram escritas nesse idioma: uma palavra designando nome de lugar em Gênesis 31.47; um versículo em Jeremias 10.00; cerca de seis capítulos no livro de Daniel 2.4b-7.28; e vários capítulos em Esdras 4.8-6.18; 7.12-26.
O aramaico continuou sendo o vernáculo da Palestina durante vários séculos. Temos assim algumas palavras aramaicas preservadas para nós no Novo Testamento: Talitha cumi ("Menina, levanta-te"), em Marcos 5.41; Ephphatha ("Abre-te"), em Marcos 7.34; Eli, Eli lama sabachthani("Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"), em Mateus 27.46. Jesus se dirigia habitualmente a Deus como Abba (aramaico "Pai"). Note a influência disto em Romanos 8.15 e Gálatas 4.6. Outra frase comum dos primeiros cristãos era Maranatha ("Vem, nosso Senhor"), em 1 Coríntios 16.22.
c) Grego Apesar de Jesus falar aramaico, o Novo Testamento foi escrito em grego - grego koinê. A mão de Deus pode ser vista nisto, porque o grego era o idioma internacional do século I, tornando assim possível a divulgação do evangelho através de todo o mundo então conhecido.
9. Manuscritos
9.1. Definição
A palavra "manuscrito" como usada hoje é restrita àquelas cópias da Bíblia feitas no mesmo idioma em que foram originalmente escritas. Na ocasião em que a Bíblia veio a ser impressa (1455 A.D.), havia mais de 2.000 manuscritos nas mãos de certos letrados. Nenhum era, de forma alguma, completo. Alguns contêm apenas pequenas porções do texto original, mas reunidos podem assegurar um texto completo. Existem cerca de 4.500 manuscritos do Novo Testamento. Este número é significativo quando se considera que os eruditos tendem a aceitar dez ou vinte manuscritos clássicos, a fim de reputar genuína uma obra. Virgílio, por exemplo, viveu e escreveu por volta da época de Cristo. Não restou nenhum original de sua obra. A primeira cópia de seu trabalho data, na verdade, de 300 anos após sua morte. Todavia, caso sejam encontrados dez ou vinte manuscritos de acordo, os letrados irão aceitar a obra como autêntica. Compare dez ou vinte manuscritos com os milhares de manuscritos da Bíblia. Os manuscritos foram, naturalmente, feitos à mão.
9.2. Classificação
Os manuscritos estão divididos em duas classes:
a) Unciais (do latim uncia, polegada). São assim chamados por serem escritos em grandes letras maiúsculas sobre o velino delgado. Trata-se dos manuscritos mais antigos.
b) Cursivos Vieram mais tarde os manuscritos cursivos, que receberam este nome por serem escritos com letras "cursivas" ou à mão. Datam do século X ao século XV A.D. Dos 4.500 manuscritos existentes, cerca de 300 são unciais e o restante, cursivos. Não fosse a ordem de Diocleciano para destruí-los em 302 A.D., haveria provavelmente um número muito maior deles. Dos 300 unciais existentes hoje, cerca de 200 são manuscritos copiados em velino que datam do século IV ao século IX. Além desses, há cerca de setenta documentos em papiro datados do século II ao século IV. Peças de cerâmica fragmentada, conhecidas como "óstracos", eram muito usadas na antigüidade como material de escrita, e cerca de trinta delas foram encontradas, contendo porções das Escrituras. Esses papiros e óstracos só recentemente vieram à luz e serviram para aumentar consideravelmente nosso conhecimento do texto do Novo Testamento.
9.3. Manuscrito Sinaítico - Códice Alef
Um dos primeiros unciais (340 A.D.), o Sinaítico foi descoberto em 1844 pelo Dr. Constantine Tischendorf, um professor da Bíblia e erudito alemão, no Monastério de St. Catherine, no monte Sinai. Escrito em grego, ele contém uma parte da tradução Septuaginta do antigo Testamento em grego e o Novo Testamento inteiro, além de metade dos livros apócrifos, assim como a Epístola de Barnabé e uma boa parte do Pastor de Hermas. Ele contém 364,5 folhas de excelente velino, com 34,56 cm de largura e 38,15 cm de altura. Cada página possui quatro colunas de cerca de 6,35 cm de largura, exceto os Livros Poéticos, onde existem duas colunas mais largas. Cada coluna tem quarenta e oito linhas.
O Dr. Tischendorf descobriu as páginas do manuscrito no monastério, onde os monges as utilizavam para acender fogo. Ele resgatou quarenta e três folhas do velino; mas somente 15 anos mais tarde conseguiu obter as folhas restantes, com a ajuda do czar da Rússia, em troca de alguns presentes para o monastério no Sinai. Em 1869, a obra foi entregue à Biblioteca Imperial em São Petersburgo (agora Leningrado). Em 1933 a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) a vendeu ao Museu Britânico por 100.000 libras inglesas, onde se encontra até hoje. Um recinto antes desconhecido foi descoberto no Monastério de St. Catherine em 1975, e nele foram encontradas mais treze páginas do Sinaítico. Junto com o Vaticano, o Sinaítico é considerado um dos dois manuscritos mais importantes existentes. Ele é o único que contém o Novo Testamento completo.
9.4. Manuscrito Alexandrino - Códice A
Este manuscrito, o último dos três maiores unciais considerados aqui, data do século V (cerca de 450 A.D.). Embora contenha tanto o Antigo como o Novo Testamento, algumas partes estão faltando. Do Antigo Testamento faltam: Gênesis 14.14-17; 15.1-5; 16-19; 16.6-9; 1 Reis 12.18-14.9 e Salmos 49.19-79.10. Do Novo Testamento faltam: Mateus 1.1-25.6; João 6.50-8.52; 2 Coríntios 4.13-12.6.
É composto de 773 folhas, 639 do Antigo Testamento e 134 do Novo. Seu tamanho é 26,24 centímetros de largura e 32,64 centímetros de altura. Cada página tem duas colunas de 50 ou 51 linhas. Foi provavelmente escrito em Alexandria, no Egito. Conta-se ter sido apresentado ao patriarca de Alexandria, tendo obtido o nome de Códice Alexandrino. Encontra-se agora na Biblioteca Nacional do Museu Britânico em Londres, na Inglaterra. Apesar disso, não chega a alcançar o elevado padrão dos manuscritos Vaticano e Sinaítico.
Só mais dois unciais antigos serão mencionados aqui. Existem inúmeros outros - na maioria pequenas porções do Antigo ou Novo Testamento. Todavia, por menores que sejam esses fragmentos, cada um acrescenta seu testemunho à exatidão das presentes Escrituras.
9.5. Manuscrito Vaticano - Códice B
Este uncial famoso datado século IV (350, possivelmente 325 A.D.). Está escrito em grego e contém a tradução Septuaginta do Antigo Testamento, os Apócrifos (com exceção dos livros dos Macabeus e da Oração de Manassés) e o Novo Testamento. No Antigo Testamento estão faltando Gênesis 1.1-46.28, 2 Reis 2.5-7, 10.13 e Salmos 106.27-136.6. No Novo Testamento, faltam Marcos 16.9-20, João 7.53-8.11 e Hebreus 9.14 até o fim do Novo Testamento, incluindo as Epístolas Pastorais (1 e 2 Timóteo, Tito e Filemom) e Apocalipse (mas não as Epístolas Gerais: Tiago, 1 e 2 Pedro, e, 2 e 3 João e Judas).
Como o nome sugere, este manuscrito encontra-se agora na Biblioteca do Vaticano em Roma, onde foi catalogado pela primeira vez em 1481. E contém 759 folhas, 617 do Antigo Testamento e 142 do Novo. As páginas possuem 25,6 cm de largura e 26,88 de altura. Cada página contém três colunas de 42 linhas, exceto os Livros Poéticos, que têm duas colunas. O Vaticano é considerado como a melhor cópia conhecida do Novo Testamento. É interessante notar que não inclui Marcos 16.9-20, porém o escriba deixou mais de uma coluna vazia nesse lugar, como se conhecesse esses versículos, mas estivesse indeciso quanto a incluí-los ou não.
9.6. Manuscrito Efraim - Códice C
Este manuscrito contém partes do Antigo e Novo Testamentos. Existem agora apenas 64 folhas do Antigo Testamento e 145 do Novo Testamento. As páginas são de 24,32 cm por 31,36 cm. Cada página contém uma coluna larga de 40-46 (geralmente 41) linhas. Julga-se que foi escrito no Egito, provavelmente em Alexandria, e data do século V (cerca de 450 A.D.).
Este manuscrito é o que se chama de palimpsesto, significando "raspado". O pergaminho de velino era escasso e de alto preço; portanto, a escrita era algumas vezes raspada e outro material era escrito por cima ou, como neste caso, entre as linhas originais. No século XII, as palavras originais deste manuscrito foram parcialmente apagadas e os sermões do Padre Sírio Efraim (299-378) inseridos entre as linhas. Esta é a razão de ser Manuscrito Efraim.
Quase no final do século XVII, um aluno da biblioteca pensou ter visto traços de uma escrita mais antiga por baixo dos sermões de Efraim. Em 1834, mediante uma solução química forte, as Escrituras originais da Bíblia grega foram parcialmente restauradas. Em 1840, Tischendorf revelou mais completamente o texto anterior e foi o primeiro a lê-lo com êxito. Em 1843-45 ele o editou e publicou.
9.7. Manuscrito Beza - Códice D
Data do século VI (cerca 550 A.D.). Com algumas omissões, contém os Evangelhos, 3 João 11-15 e Atos. Acha-se depositado na biblioteca da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. O manuscrito compõe-se de 406 folhas, cada uma de 20,48 cm por 25,6 cm, com uma coluna de 33 linhas por página. Este é o mais antigo manuscrito conhecido escrito em dois idiomas. A página da esquerda é em grego, enquanto o texto correspondente em latim fica ao lado oposto, à direita. Em 1562, ele foi encontrado no Manustério de Santo Irineu, em Lyons, França, por Theodore Beza, renomado literato bíblico francês que viajou para a Suíça e se converteu em assistente e sucessor de João Calvino, o famoso reformador de Genebra. Em 1581, Beza entregou o manuscrito à Universidade de Cambridge.
9.8. Lecionários
Mais uma palavra deve ser acrescentada para completar a história dos manuscritos do Novo Testamento. Os manuscritos incluem um grupo de materiais chamados "lecionários". O termo "leitura" refere-se a uma passagem escolhida na Escritura, destinada a ser lida nos serviços públicos. Assim sendo, um lecionário é um manuscrito especialmente arranjado e copiado com este propósito. Alguns eram unciais e outros, cursivos. A maioria deles foi extraída dos Evangelhos, mas alguns de Atos e das Epístolas. Os estudos mostraram que eles foram copiados com mais cuidado do que um manuscrito comum; portanto, fornecem cópias excelentes para comparações. Mais de 1.800 lecionários foram enumerados.
10. As versões
Depois dos manuscritos, a próxima forma mais importante das Escrituras, que dá testemunho da sua antigüidade, são as versões. A versão é uma tradução do idioma original de um manuscrito em outro idioma. Existe um número muito grande de versões, mas apenas algumas serão consideradas como exemplos dispersos através dos anos até hoje.
10.1. A Septuaginta
Esta é, talvez, a mais importante das versões, por sua data antiga e influência sobre outras traduções. A Versão Septuaginta é uma tradução do Antigo Testamento hebraico para o grego. Foi iniciada cerca de 200 A.C. e terminada cerca de 180 A.C., sendo provavelmente a mais antiga tentativa de reproduzir um livro de um idioma para outro. Este é o documento bíblico mais antigo que possuímos.
"Septuaginta" significa "setenta". A abreviação desta versão é LXX. Ela é às vezes chamada de "Versão Alexandrina", por ter sido traduzida na cidade de Alexandria, no Egito. Esta obra notável é denominada "septuaginta" por causa de uma lenda que fala de setenta e dois eruditos procedentes da Palestina (seis de cada uma das doze tribos de Israel) que viajaram para Alenxandria, onde se diz que completaram a obra em setenta e dois dias. Segundo a história, que é com certeza puramente fictícia, os eruditos ficaram separados uns dos outros, colocados um ou dois em cada cela, e quando se compararam suas traduções, todas eram idênticas.
Acredita-se agora que a tradução foi feita por judeus e alexandrinos, ao invés de palestinos. O trabalho realizou-se em Alexandria. O Pentateuco constitui a melhor parte desta tradução. Outras porções do Antigo Testamento são excelentes, mas algumas não passam de uma interpretação ou comentário. Além dos 39 livros do Antigo Testamento, ela contém todos, ou parte, dos 14 livros conhecidos como Apócrifos. A Septuaginta foi comumente utilizada nos dias do Novo Testamento e mostrou-se muito útil em traduções subseqüentes.
10.2. O Pentateuco samaritano
A raça samaritana surgiu depois dos assírios terem conquistado o reino do Norte de Israel, em 721 A.C., e levado a maior parte das dez tribos para o cativeiro. Sargão, rei dos assírios, mandou muitos povos idólatras das suas províncias orientais para Israel "Então Salmaneser invadiu Israel e cercou a cidade de Samaria. No terceiro ano do cerco, que era o nono ano do reinado de Oséias, o rei da Assíria conquistou a cidade de Samaria e levou os israelitas para a Assíria como prisioneiros. Ele mandou que alguns fossem morar na cidade de Hala, outros, perto do rio Habor, que fica no distrito de Gozã, e ainda outros, nas cidades da Média. O rei da Assíria trouxe gente das cidades de Babilônia, Cutá, Iva, Hamate e Sefarvaim e os fez morar nas cidades de Samaria, em lugar dos israelitas que haviam sido levados como prisioneiros. Esses assírios tomaram posse daquelas cidades e ficaram morando ali" (2 Rs 17.5,6,24). Esses povos fizeram casamentos mistos com os israelitas que tinham ficado na terra, formando assim a raça samaritana, uma mistura de israelitas e pagãos. Eles estabeleceram um culto rival ao dos judeus, construindo um templo no monte Gerizim. Os samaritanos aceitavam apenas o Pentateuco.
O Pentateuco samaritano é um Pentateuco hebraico escrito em letras samaritanas. Não se trata de uma tradução, mas de uma outra estruturação do próprio texto hebraico. A data em que foi escrito é aproximadamente 430 A.C. Em 2 Reis 17.26-28, lemos a respeito de um sacerdote, dentre os judeus cativos na Assíria, sendo mandado de volta a Samaria para ensinar o povo. "O rei da Assíria ficou sabendo que as pessoas que ele havia mandado morar nas cidades de Samaria não conheciam a lei do deus daquela terra, e por isso esse deus havia mandado leões, que estavam matando aquelas pessoas. Então o rei deu a seguinte ordem: `Mandem de volta um dos sacerdotes que nós trouxemos como prisioneiros. Façam com que ele volte e fique morando lá, para ensinar ao povo a lei do deus daquela terra.` Então um sacerdote israelita que havia sido levado da cidade de Samaria foi e ficou morando em Betel, onde ensinava ao povo como adorar a Deus, o SENHOR". Acredita-se que o sacerdote levou consigo uma cópia do Pentateuco hebraico e que o Pentateuco samaritano foi calcado nele.
É dito que existem cerca de 6.000 variações do texto hebraico na obra. A maioria delas é de menor importância, exceto onde os samaritanos deliberadamente fizeram alterações para adequá-lo às suas crenças específicas. Existem provavelmente cerca de 100 cópias desta versão em lugares diferentes da Europa e América. O manuscrito mais antigo conhecido, datado de 1232, acha-se na Biblioteca Pública de Nova Iorque. Em Nablus (antiga Siquém), em israel, encontra-se um rolo samaritano que parece muito antigo.
À medida que a mensagem do cristianismo foi-se difundindo para além da Palestina, a necessidade de traduções das Escrituras para os idiomas daqueles que estavam sendo evangelizados tornou-se evidente. Temos assim diversas versões, apesar de que somente algumas serão examinadas. Comparadas aos manuscritos, seu valor é secundário, mas elas são de alguma ajuda para a compreensão do texto original.
10.3. As versões siríacas
O idioma sírio era a principal língua falada nas regiões da Síria e Mesopotâmia. É quase idêntico ao aramaico.
a) O Siríaco Antigo Só se soube da sua exostência há pouco mais de cem anos. Existem dois manuscritos principais desta obra:
1) O Siríaco Curetônio é uma cópia do século V dos evangelhos, consistindo em oitenta folhas. Recebeu esse nome em honra do Dr. Curetan, do Museu Britânico, que o editou.
2) O Siríaco Sinaítico foi descoberto no Monastério de St. Catherine, no Monte Sinai. É um palimpsesto, e só aproximadamente três quartos dele puderam ser decifrados. A data designada é o século IV ou início do século V A.D.
b) A Pesita A palavra "pesita" significa "simples" ou "comum", sendo então conhecida como `Vulgata Siríaca` ou Versão Autorizada da Igreja Oriental. Ela vem sendo utilizada desde o século V A.D. Contém o Novo Testamento inteiro, com exceção de 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse. Existem cerca de 250 manuscritos dessa versão. Tem sido de grande utilidade para a crítica textual e sua circulação é vasta, até mesmo na China. Há uma tradução em inglês feita por George Lamsa.
10.4. As versões latinas
É interessante notar que a primeira Bíblia em inglês foi baseada no latim.
a) O Latim Antigo Reporta-se a uma data bem antiga, possivelmente 150 A.D. Existem cerca de vinte cópias dessa versão. Tem grande importância como testemunha da autenticidade do texto bíblico, por causa de sua antigüidade e sua fidelidade ao texto que traduz.
b) A Vulgata Latina "Vulgata" significa "comum" ou "corrente". Esta é a grande versão da Bíblia em Latim. Devido aos inúmeros erros dos copistas da versão do Latim antigo, Damaso, bispo de Roma, obteve os serviços de Jerônimo para produzir uma revisão como norma autoritária para as igrejas de fala latina. O trabalho foi feito em Belém: o Novo Testamento (382-383 A.D.) e o Antigo Testamento (390-405 A.D.).
É praticamente impossível superestimar a influência da Vulgata de Jerônimo sobre a nossa Bíblia. Por mais de mil anos toda tradução das Escrituras na Europa Ocidental foi baseada nessa obra. A Vulgata veio a ser eventualmente a Bíblia oficial da Igreja Católica Romana, continuando a sê-lo até hoje. A Bíblia Católica Romana em inglês é na verdade uma tradução de uma tradução, não sendo, como a Bíblia protestante, uma tradução da língua grega original. Depois da invenção da imprensa em 1450, a Vulgata foi o primeiro livro impresso de tipo móvel (1455).
11. Crítica bíblica
11.1. Alta Crítica
Existem dois tipos de crítica bíblica enquadrados no tópico de Introdução à Bíblia. O primeiro tem sido geralmente chamado de "Alta Crítica" ou "Crítica Histórica", estando ligado ao exame dos vários livros da Bíblia do ponto de vista de sua história. Por exemplo, trata da idade, autoria, autenticidade canônica. Traça a sua origem, preservação e integridade, mostrando seu conteúdo, caráter geral e valor. É uma disciplina que vem ajudando muito na comprovação de um cânon genuíno da Escritura. Algumas vezes a expressão "Alta Crítica" tem sido considerada extremamente prejudicial para uma atitude adequada e reverente para com as Sagradas Escrituras. Isto se aplica quando o erudito perdeu de vista a inspiração da Palavra e a substituiu por sua própria atitude de ceticismo e incredulidade.
11.2. Crítica Menor (Baixa Crítica)
O segundo tipo de crítica é referido como "Crítica Menor". Tem como objetivo verificar as palavras exatas dos textos originais da Bíblia. Seu método é reunir e comparar os manuscritos, versões e citações antigas da Escritura e determinar a leitura de cada passagem duvidosa.
12. Evidências para textos bíblicos
O crítico bíblico sincero utiliza-se de três fontes principais de evidências para determinação das palavras exatas - as mais próximas dos manuscritos originais. Duas delas já foram mencionadas: os manuscritos e as versões. Uma terceira fonte valiosa precisa ser considerada. Os escritos dos Primeiros Pais da Igreja.
12.1. Os Pais da Igreja
Esses homens foram chamados "pais", que é um sinônimo de "mestre" (professores). Foram os grandes líderes, teólogos e eruditos dos primeiros séculos depois de Cristo. Eram cristãos dedicados que escreveram sermões, comentários e harmonias. Eles defendiam ardentemente a fé contra as incursões pagãs. Alguns dos nomes mais conhecidos de um grupo de cerca de 200 homens, segundo consta, durante os sete primeiros séculos, são:
* Para o período 96-150 A.D.: Clementino de Roma, Hermes, Inácio, Policarpo;
* Para o período 150-326 A.D.: Justino Mártir, Irineu, Clemente de Alexandria, Orígenes, Tertuliano, Cipriano, Tatiano;
* Para o período 325 A.D. em diante: Eusébio, Atanásio, Jerônimo, Agostinho.
Esses homens citaram livremente a Bíblia, não só mencionando todos os 27 livros do Novo Testamento, mas virtualmente cada versículo.
O testemunho dos escritores dos Pais da Igreja quanto à autenticidade do texto é de suma importância. Primeiro, por causa de sua devoção a Deus e à sua Palavra, eles foram cuidadosos ao copiar as Escrituras. E, segundo, por terem vivido tão perto dos dias apostólicos. É provável que tivessem tido acesso a manuscritos que não existem mais hoje. Há possibilidade de que alguns tivessem acesso aos próprios originais.
12.2. Os Rolos do Mar Morto
Descobertos pela primeira vez em março de 1947 por um jovem pastor de cabras numa caverna perto do lado norte do Mar Morto, os Rolos do Mar Morto, cerca de 350 ao todo, foram considerados como uma das maiores descobertas arqueológicas do século XX. Escritos pelos essênios, entre o primeiro século antes e o primeiro século depois de Cristo, as partes bíblicas deste rolo nos fornecem manuscritos centenas de anos mais antigos que quaisquer outros. Partes de cada livro do Antigo Testamento foram encontradas, com exceção de Ester. De especial interesse são os rolos do livro de Isaías, porque um dentre os dois encontrados é o livro completo desse grande profeta. Trata-se de um manuscrito hebraico de Isaías mil anos mais antigo do que qualquer outro já descoberto. De maneira notável, os rolos confirmam a exatidão do texto massorético do Antigo Testamento
12.3. Os papiros
De grande interesse para os eruditos bíblicos é uma certa quantidade de papiros descobertos recentemente (1931) nas tumbas do Egito. Estes têm sido freqüentemente considerados os de benefício mais importantes para a crítica textual do Novo Testamento, desde que Tischendorf anunciou a descoberta dos Códices Sináticos. esses papiros foram adquiridos por um renomado colecionador de manuscritos, A. Chester Beatty. Outros se encontram na Universidade de Michigan e nas mãos de particulares. Eles contêm partes do Antigo Testamento em grego: trechos consideráveis de Gênesis, Números e Deuteronômio, e trechos de Ester, Ezequiel e Daniel. Três manuscritos do grupo são livros do Novo Testamento: porções de trinta folhas dos Evangelhos e Atos, oitenta e seis folhas das Epístolas Paulinas e dez folhas da parte do meio do livro de Apocalipse. Esse material é da maior importância, pois data do século III ou antes. O texto é de tão alta qualidade que se compara aos Códices Vaticano e Sinaítico.
O Fragmento de John Rylands é um pequeno pedaço de papiro com apenas 38,96 cm por 6,4 cm. Embora tão pequeno, é reconhecido como o manuscrito mais antigo de qualquer parte do Novo Testamento. Está escrito de ambos os lados e contém uma parte do Evangelho de João 18.31-33,37,38. Foi obtido em 1920.
Em 1956, Victor Martin, professor de filosofia clássica na Universidade de Genebra, publicou um códice de papiro do Evangelho de João: o Papiro Bodner II. Este incluía os capítulos 1.1 até 14.26, sendo datado de 200 A.D. Trata-se provavelmente do livro mais antigo do Novo Testamento.
12.4. Declarações estimulantes
a) As doutrinas da Escritura Qualquer que seja a variedade das leituras descobertas pelos críticos textuais, é um fato reconhecido que nenhuma delas de maneira alguma altera a doutrina da fé cristã.
b) Pureza do texto "Wescott e Hort, Ezra Abbot, Philip Schaff e A.T. Robertson avaliaram cuidadosamente a evidência e concluíram que o texto do Novo Testamento é mais de 99% puro."
13. AS ESCRITURAS EM INGLÊS
13.1. Os começos
Os começos da Bíblia em inglês reportam-se ao século VII, quando um lavrador inculto chamado Caedmon dispôs as histórias da Bíblia em forma de verso. No século seguinte a primeira tradução real da Bíblia foi feita por Aldhelm, que traduziu os Salmos e 705 A.D. O venerável Bede, historiador inglês antigo, terminou de traduzir o Evangelho de João virtualmente com seu último alento (735). Perto do final do século IX, o rei Alfredo, um rei piedoso, traduziu os Dez Mandamentos, outras leis do Antigo Testamento, os Salmos e os Evangelhos, embora estes ainda não estivessem completos por ocasião de sua morte. Cerca de 1000 A.D., Aelfric, arcebispo de Canterbury, traduziu os Evangelhos, os primeiros sete livros do Antigo Testamento, Ester, Jó e partes de Reis.
13.2. John Wycliffe
Erudito de Oxford, é um dos nomes realmente importantes na história da Bíblia inglesa, tornando-a acessível ao público. Com a ajuda de alguns de seus alunos, ele traduziu a Bíblia inteira a partir da Vulgata Latina. A obra terminou em 1382, sendo a primeira tradução da Bíblia completa em inglês. Uma revisão deste trabalho, para harmonizar os vários estilos dos tradutores, foi realizada por John Purvey, que corrigiu e revisou a fundo a tradução de Wycliffe em 1388. Esta edição revisada predominou até o século XVI.
13.3. William Tyndale
Tem sido chamado de "verdadeiro pai da Bíblia em inglês". Em 1516, o monge-erudito Erasmo publicou o primeiro Novo Testamento, tendo encontrado porém tanta oposição da Igreja Católica Romana que teve de fugir para Hamburgo, na Alemanha. Ele terminou ali a tradução e procurou imprimi-la em Colônia. A essa altura, Tyndale se associara a Martinho Lutero e à Reforma. Assim sendo, os inimigos da Reforma tornaram-se também inimigos de Tyndale. Ele viu-se obrigado a fugir de Colônia com as folhas de seu Novo Testamento, parcialmente impresso.
Deve-se notar que em 1450 Johann Gutenberg, de Mainz, na Alemanha, inventou a primeira prensa de tipos móveis, e o primeiro livro impresso nessa máquina foi a Vulgata Latina (1455), conhecida como "Bíblia Mazarina", porque cópias dela foram encontradas na biblioteca do cardeal Mazarino em Paris.
Tyndale encontrou um ambiente mais amigável em Worms, na Alemanha, onde a impressão de sua tradução do Novo Testamento pôde ser completada em 1525. No início do ano seguinte, cópias de sua tradução foram contrabandeadas para a Inglaterra e compradas com entusiasmo em sua totalidade, as autoridades romanas condenaram a tradução como herética e as cópias foram compradas e queimadas em público. Tyndale continuou, no entanto, seu trabalho de tradução do Antigo Testamento em inglês. Terminou o Pentateuco em 1530, o livro de Jonas em 1531 e revisou Gênesis em 1534. Nesse mesmo ano, Tyndale foi traído e aprisionado. Depois de dezesseis meses de prisão, foi estrangulado e queimado na fogueira. Suas últimas palavras foram: "Senhor, abre os olhos do rei da Inglaterra." A Versão Autorizada do Rei Tiago é praticamente uma revisão da obra de Tyndale. Podemos ver então como é grande a dívida para com ele.
14. Outras traduções do século XVI
14.1. A Bíblia Coverdale
Foi impressa em 1535, tendo a honra de ser a primeira Bíblia completa impressa em inglês. Trata-se de uma obra de Miles Coverdale, amigo pessoal de Tyndale. Era a tradução de uma tradução, do alemão e do latim. Foi a primeira Bíblia que teve a aprovação do rei da Inglaterra.
14.2. A Bíblia de Mateus
Apareceu em 1537, sendo uma obra do amigo de Tyndale, John Rogers. Era uma edição combinada de Tyndale e Coverdale. A Bíblia de Mateus é na realidade a Bíblia completa de Tyndale, até onde foi sua tradução, complementada pelo trabalho de Coverdale. Foi a primeira revisão de Tyndale e forma a base de todas as revisões futuras: a Grande Bíblia, a Bíblia de Genebra, a Bíblia do Bispo e a Versão do Rei Tiago. Tem o nome de "Bíblia de Mateus" porque Rogers temia que, se o nome de Tyndale aparecesse, pudesse haver maior oposição.
14.3. A Grande Bíblia
Publicada em 1539, trata-se na verdade de uma revisão da Bíblia de Mateus, que era uma revisão da de Tyndale. A obra foi feita por Coverdale, um revisor muito cuidadoso. Recebeu o nome de "Grande Bíblia" por causa de seu grande tamanho, 33,92 cm por 19,2 cm. Foi chamada de Primeira Bíblia Autorizada, porque o rei Henrique VIII aprovou-a, deu ordens para que fosse lida publicamente em todas as igrejas e fosse colocada em cada igreja em todo o território, a fim de que todos tivessem oportunidade de lê-la. Ficava presa com correntes numa mesa na igreja para que ninguém a pudesse roubar; por esta razão, recebeu o nome de "Bíblia Acorrentada". Ao que parece, a oração de Tyndale fora respondida, e o Senhor abriria os olhos do rei da Inglaterra.
14.4. A Bíblia de Genebra
Publicada em 1560, estava dstinada a tornar-se a Bíblia mais popular do século. Recebeu o nome de "Bíblia de Genebra" por ter sido impressa em Genebra. Em tamanho pequeno e letras legíveis, com ilustrações e comentários adequados, veio a ser a Bíblia popular dos lares, assim como a Grande Bíblia fora a Bíblia popular das igrejas. Foi a primeira Bíblia inteira dividida em versículos. O Novo Testamento havia sido impresso com divisões em versículos por Robert Stephans em 1551. Alguns atribuem as divisões em capítulos ao cardeal Hugo (1248), outros a Stephen Langston, arcebispo de Canterbury, em 1227. A Bíblia de Genebra era a Bíblia de Shakespeare e dos Peregrinos que foram à América do Norte.
14.5. A Bíblia do Bispo
Publicada em 1568, com autorização do bispo Parker e outros bispos que acharam que a Bíblia de Genebra destruía a sua autoridade, jamais foi uma edição popular, de tamanho inconveniente e muito rígida, formal e difícil para ser apreciada pelo povo comum.
14.6. A Bíblia Rheims-Douai
Como resultado da grande atividade de tradução bíblica por parte da Igreja Protestante, os católicos romanos foram influenciados a produzir uma tradução inglesa própria. Por conseguinte, uma edição do Novo Testamento foi produzida no colégio de inglês em Rheims, França. Em 1609-10 o Antigo Testamento foi publicado no mesmo colégio, que se mudara para Douay, França. A Rheims-Douai tornou-se então a primeira edição católica romana da Bíblia inglesa. Sua tradução não teve como base os idiomas originais e, sim, a Vulgata Latina.
14.7. A Versão do Rei Tiago
Publicada em 1611, é mais conhecida como a Versão Autorizada. Numa conferência, chamada de Conferência da Corte de Hampton, abrangendo líderes religiosos de vários e diferentes grupos, convocados para discutir a questão da tolerância religiosa, foi feita uma proposta para produzir uma tradução da Bíblia. O rei Tiago recebeu com entusiasmo a sugestão e estabeleceu regras, no sentido de não incluir qualquer comentário que houvesse dividido as igrejas. Cerca de 48 eruditos gregos e judeus foram escolhidos e divididos em seis grupos de trabalho: dois em Oxford, dois em Westminster e dois em Cambridge. Cada grupo recebeu certos livros para traduzir e depois o trabalho de cada um era enviado aos dois outros grupos. Desse modo, a tradução é de fato o trabalho de todos, em lugar de corresponder ao de um indivíduo. Na realidade, era uma revisão da Bíblia do Bispo, que por sua vez era uma revisão da obra de Tyndale. A versão Autorizada é na verdade a quinta revisão da tradução de Tyndale. Iniciada em 1607, depois de dois anos e nove meses, foi enviada aos impressores e apresentada ao público pela primeira vez em 1611, sete anos após a Conferência da Corte de Hampton. Esta tem sido a mais popular e amplamente aceita versão da Bíblia há mais de 370 anos.
15. Traduções recentes da Bíblia em inglês
15.1. English Revised Edition (Edição Revisada em Inglês)
Por melhor que fosse a obra e por mais popular que a Versão do Rei Tiago continuasse a ser, foi reconhecido que ela continha certos pontos fracos. As testemunhas mais valiosas dos textos originais, os Manuscritos Vaticano, Sinaítico, Alexandrino e Efraim, não foram postos à disposição dos tradutores da Versão do Rei Tiago. Essa tradução contém inúmeras expressões arcaicas e vários erros foram observados, embora não considerados como graves.
Desse modo, em fevereiro de 1870, foi feita uma moção para levar a efeito a revisão da versão do Rei Tiago pela Convocação da Província de Canterbury. Homens de irrepreensível erudição foram escolhidos na Inglaterra, aos quais se reuniram os mais ilustres homens dos Estados Unidos. A 17 de maio de 1881 publicou-se o Novo Testamento, seguido do Antigo Testamento a 19 de maio de 1885. A obra completa é conhecida como Edição Revisada em Inglês.
15.2. The American Standard Version (Versão Normativa Americana)
Publicada em 1901, é reconhecido o uso de uma base textual melhor do que a disponível aos tradutores da Versão do Rei Tiago, juntamente com um conhecimento avançado dos idiomas originais. Muitos dos arcaísmos da Versão do Rei Tiago foram esclarecidos. Todavia, não ficou sem ser criticada. O que ficou mais claro na compreensão do grego, ela perdeu na beleza da língua. Charles Spurgeon teria dito sobre ela: "Forte em grego, débil em inglês."
15.3. The Revised Standard Version (Versão Normativa Revisada)
A Thomas Nelson and Sons Company havia entregue em 1929 os direitos de propriedade a vencer da American Standard Version ao Conselho Internacional de Educação Religiosa, que nomeou um Comitê de eruditos para considerar a conveniência de revisar a Versão Normativa. Houve um acordo nesse sentido, mas os fundos necessários estavam difíceis de ser obtidos. Só em 30 de setembro de 1952 é que a Bíblia completa veio a ser apresentada. O propósito dos revisores era utilizar-se de inúmeros manuscritos e papiros novos que tinham sido descobertos desde a publicação da versão em 1901, retendo porém a beleza da linguagem da Versão do Rei Tiago. A recepção foi excelente, embora não ficasse isenta de críticas, principalmente entre os eruditos conservadores.
15.4. The New American Standard Bíble (Nova Bíblia Normativa Americana)
Publicada em 31 de julho de 1970, recebeu a aprovação de muitos conservadores. É baseada na Versão Normativa Revisada de 1901.
15.5. The ew Internacional Version (Nova Versão Internacional)
Esta tradução completamente nova foi recebida com entusiasmo. O Novo Testamento saiu em 1973 e a Bíblia completa, em 1978. O trabalho foi efetuado por eruditos dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, dando-lhe assim seu sabor internacional. Eruditos de mais de treze denominações participaram da tradução.
15.6. Muitas outras
Durante a última ou as duas últimas décadas tem havido uma enxurada de novas traduções, numerosas demais para serem mencionadas aqui. Algumas empenham-se em ser interpretações literais dos originais, enquanto outras são definitivamente paráfrases no que se considera ser um inglês mais moderno. Outras estão ainda sendo feitas e irão surgir sem dúvida em um fututo próximo.
Conclusão
Será que esse fluxo de "especialistas" que nos dão o idioma exato dos escritos originais indica que não podemos depender de nossa Bíblia inglesa atual para declarar a verdadeira mensagem que Deus quer proclamar à humanidade? Talvez a seguinte citação de Sir Frederic Kenyon, diretor do Museu Britânico, responda melhor à pergunta: "É animador descobrir no final que o resultado de todas essas descobertas e todo esse estudo é fortalecer a prova da autoridade das Escrituras e nossa convicção de que temos em mãos, em substancial integridade, a verdadeira Palavra de Deus."
Fonte: Fundamentos da Teologia Pentecostal - Guy P. Duffield e Nathaniel M. Van Cleave, Editora Publicadora Quadrangular, George Russell Faulkner, Bíblia Sagrada: NTLH - Nova Tradução na Linguagem de Hoje, grifo nosso.