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Teologia - A. T. Vol. 3
Teologia - A. T. Vol. 3

Título: Teologia do Antigo Testamento - Vol. 3


7.3. PECADO SOCIAL   

Do ponto de vista dos escritores bíblicos, o pecado entre o povo escolhido é essencialmente a infidelidade das pessoas de Israel no cumprimento das suas responsabilidades perante Deus, de acordo com o cocerto entre Deus e o povo da Sua escolha. Estas responsabilidades incluem a prática de justiça e retidão entre as pessoas. Uma injustiça praticada contra o vizinho é também pecado contra Deus. A violação do casamento é pecado (Gn 39.9). A violação do contrato com o prestador de serviço é pecado (Dt 24.15). São pecaminosos todos os atos que prejudicam os interesses de Israel (2Rs 18.14). Quem deixa de cumprir a promessa feito a outra pessoa comete pecado (Gn 43.10). É pecado ajudar a pessoa injusta na sua contenda com uma pessoa justa, perante o tribunal (Êx 23.7; Pv 17.15; Is 5.23). Assim a responsabilidade social do ser humano recebe ênfase em toda parte do Antigo Testamento. As atividades dos pecadores operam contra as formas das pessoas justas que representam o reino de Deus, no sustento positivo da sociedade. Nos ensinos proféticos, o pecado da injustiça social centralizou-se cada vez mais na desobediência e na rebelião contra Deus. Os profetas denunciaram os males sociais porque são contra Deus. A sociedade de Israel ficou entranhavelmente unida em virtude da sua redenção, da sua escolha como o povo peculiar de Deus, da sua união com Deus pelo concerto que lhe proporcionava o amor imutável do Senhor no cumprimento da sua missão no mundo. O desenvolvimento das instituições sociais e políticas apresentou novos problemas. A mudança da sociedade patriarcal, e o governo tribal para um governo nacional criou problemas econômico, éticos e religiosos de vasta importância. Surgiu o conflito entre o desejo de seguir a orientação Divina revelada aos profetas, e as ambições políticas, nos períodos críticos da história. O fato importante nesta luta, especialmente para o estudante Bíblico, é que Israel nunca podia esquecer por completo a finalidade da sua escolha Divina e da sua missão espiritual. A prática da justiça entre as pessoas, é a vontade de Deus. Os direitos e os privilégios do ser humano lhe pertencem em virtude da vontade Divina, e a negação destes direitos é ofensa contra Deus. Os profetas não se apresentaram como pregadores de ética, mas os seus princípios éticos são corolários do seu conceito de Deus. Os profetas condenaram os pecados sociais porque eram ofensa contra Deus, e contra o bem-estar do povo escolhido (Mq 6.8). "A justiça é justiça porque é o querer de Deus. A justiça é a vontade de Deus porque se harmoniza perfeitamente com o seu santo caráter". Como a violação da justiça, o pecado é igualmente a maldição do pecado. "Arrependei-vos, e desviai-vos de todas as vossas rebeliões, para que a iniqüidade não seja a vossa ruína" (Ez 18.30). "A malícia matará o ímpio; e os que odeiam o justo serão condenados" (Sl 34.21). "Aqueles que semeiam a perversidade colherá a calamidade" (Pv 22.8). A impureza e a perversidade do espírito é uma maldição que gradualmente destrói a personalidade. Ficando isolado de Deus pelo pecado, o pecador perde a esperança de realizar o propósito de Deus na sua vida. O Antigo Testamento ensina igualmente que o pecado da coletividade traz sobre ela a maldição. Os profetas não acreditavam no provérbio que diz: "A força determina o que é justo". Não julgam que o pequeno Israel tinha que ser inevitavelmente engolido pelas grandes nações em redor. A beneficiência amorável do Senhor na fundação de Israel em um grupo de escravos, que Ele tinha libertado, ficou eternamente gravada na memória nacional. Não obstante o poder invencível do poderoso exército de Senaqueribe, o profeta Isaías confiava serenamente no poder do Senhor de operar o livramento e a salvação de Jerusalém, para a glória futura do Seu reino no mundo. Os ricos e poderosos cometiam pecados graves contra a sociedade. Subornavam juízes para ajudá-los no roubo às vítimas nas contendas perante os tribunais (Am 5.7, 12; Mq 7.3,4). Praticavam a violência para encher os seus palácios de riqueza (Am 3.10; Mq 2.1,2). 

7.4. A ORIGEM DO PECADO  

Teólogos modernos do Antigo Testamento dizem pouco, sobre a origem do pecado. Dizem que o Antigo Testamento não tem nenhuma doutrina da queda do ser humano. Segundo o apóstolo Paulo, o pecado teve origem na transgressão de Adão. É verdade que Paulo dá uma interpretação do significado do pecado de Adão que não se encontra no Antigo Testamento senão por implicação. É muito provável que as idéias distintivas de Paulo, tão largamente aceitas pelo cristianismo, tenham sido geralmente aceitas pelos judeus da sua época, e tendo sido consideradas harmoniosas com os ensinos das Escrituras Sagradas. O ser humano para seguir a orientação de Deus tem a tendência de ceder à tentação de seguir o seu próprio caminho, e o resultado da rebelião contra o propósito do Senhor é vergonha e sofrimento. Por causa da solidariedade da natureza humana, o mal do pecador pode envolver gerações subseqüentes, como se vê logo na história do pecado de Caím e Lameque. Seja qual for a influência literária da mitologia antiga nesta história da queda do ser humano, o escritor revela profundo conhecimento psicológico da natureza da tentação e do pecado. É verdade, como dizem os críticos históricos, que a doutrina de satanás não se achava desenvolvida quando esta história foi escrita. Mas a serpente se apresentava na narrativa como tendo o mesmo caráter, a mesma astúcia e a mesma influência maliciosa de satanás, o inimigo do ser humano e de Deus. A serpente apresenta a mais poderosa tentação possível, no esforço de corromper o casal e conseguir a sua queda. "É assim que Deus disse: não comereis de toda árvore do jardim?" Assim a pergunta é dirigida ao egoísmo, à importância própria do casal. Com astuta insinuação, o tentador põe ênfase na única limitação que Deus lhes impusera. A resposta da mulher mostra que a sugestão do tentador, porque desconfia logo da bondade do Senhor, um elemento de todas as tentações. "Do fruto das árvores do jardim podemos comer; mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: não comereis dele, e nem nele tocareis, para que não morrais". O Antigo Testamento reconhece as maravilhosas potencialidades, para o bem ou para o mal, do ser humano criado à imagem de Deus. A sua natureza é complicada e pecaminosa. Parece que o pecado, em todas as suas formas, tem a sua origem no egoísmo. 

7.5. CONSEQÜÊNCIA DO PECADO   

Todas as formas de pecado, segundo o Antigo Testamento, são cometidas contra Deus. Qualquer falta de conformidade à vontade de Deus é pecado. O alvo Divino para o ser humano é o de viver feliz, em comunhão com Deus, e, quando ele desobedece à vontade do Senhor, perde o alvo preceituado para ele. O ser humano recebe todos os seus direitos e todos os seus privilégios de Deus. Portanto, quem nega ao ser humano qualquer de seus direitos, peca não somente contra aquela pessoa, mas peca também contra Deus. Qualquer inhustiça praticada entre seres humanos é pecado contra Deus. Quando Davi confessou o seu pecado de adultério com Bate-seba, ele não disse: "Eu pequei contra Bate-seba e ou contra Urias". Mas ele declara ao profeta Natã: "Pequei contra o Senhor". Assim também no Salmo tradicionalmente associado com este incidente, o Salmista confessa: "Contra Ti, contra Ti somente pequei e fiz o que é mau diante dos Teus olhos" (Sl 51.4). A maldição do pecado é o engano, a culpa, a vergonha e a depravação do pecador (Os 8.7; Dt 28.15). É a impureza do pecador que faz separação entre ele e Deus (Sl 51.2; Is 59.2). Os profetas ensinaram também que o pecado da comunidade, ou da nação, traz a calamidade sobre os transgressores. Deus criou o universo, que representa, na operação das Suas leis, os princípios da justiça, porque Ele mesmo é o Justo. Para o bem-estar da humanidade, é inerente na natureza do mundo criado por Deus que o salário do pecado seja a morte. Mas é muito difícil para o ser humano aprender esta verdade. Aprendeu bem cedo que o fogo queima, e tem o bom senso de não colocar a mão no fogo. Não é o desejo de Deus que o fogo queime o corpo do ser humano, nem que a comida venenosa o mate. Semelhantemente, Deus não deseja que o pecado destrua a pessoa e ou a nação. É a rebelião do pecador contra a vontade do Senhor que traz a destruição, tanto para si, como para seus semelhantes.

7.6. INFLUÊNCIAS DO PECADO   

Os israelitas entenderam tão claramente como nós que muito da miséria e do sofrimento humano é o resultado direto e ou indireto do pecado. Segundo a teologia dos seus amigos, o sofrimento de Jó foi castigo Divino em retribuição aos pecados praticados por ele. No caso dele, a teoria foi refutada, todavia, não foi negado, mas antes acentuado o fato de que o sofrimento é inerente na natureza do pecado. A injustiça, nas suas muitas formas, é a causa principal do sofrimento humano.

 

8. O PROBLEMA DO MAL   

A existência do mal no mundo é o problema mais sério para todas as pessoas que creêm em Deus. As experiências com Deus, apesar das experiências do mal, constituíram a base da fé religiosa do povo de Israel e da sua certeza da existência e da bondade do Senhor. Para o ateísta, que não crê na existência de Deus, o sofrimento e a crueldade não tem propósito nem significação, mas, com o cescimento da fé religiosa, este problema se torna mais agudo. É tão antigo como a raça humana. Toma muitas formas na perturbação do ser humano, e tem lugar central nas mitologias, nos sistemas filosóficos, nas teologias e nas ideologias modernas. No Antigo Testamento o problema do mal é representado por vários pontos de vista através da longa história de Israel, e sempre relacionado com a doutrina do pecado. 

8.1. O PECADO, A CULPA E A PUNIÇÃO   

No Antigo Testamento o pecado sempre acarreta o reconhecimento da culpa e a justiça da punição do pecador. A culpa nem sempre corresponde com a convicção do pecador. Ele pode ficar cônscio do pecado, sem qualquer sentido de culpa e sem reconhecer que o seu ato merece censura e punição. Aparentemente, Davi não reconheceu a gravidade do seu crime, nem experimentou a convicção de culpa, até que o profeta Natã lhe contou a parábola ingênua que lhe revelou a horrível injustiça que ele tinha praticado. Os escritores do Antigo Testamento, entenderam a santidade e a justiça de Deus. É convicção antiga, profunda e aparentemente universal, que o bem e o mal não devem receber a mesma consideração, e não podem ser tratados da mesma maneira. A consciência humana se revolta contra a idéia de tratar igualmente o malvado e o bondoso. Para desprezar a diferença entre o bem e o mal, e considerar o malvado como se fosse bom, apagaria p.ex., o conceito moral do universo. Que o pecado merece castigo, é o senso comum dos seres humanos de todas as raças, e concorda com o ponto de vista representado no Antigo Testamento. Deve ser reiterado o fato de que a religião de Israel, pelo estabelecimento do concerto com Javé no Sinai, rompeu as religiões cujos deuses eram caprichosos e podiam castigar arbitrariamente o seu povo, sem qualquer justificação fora da sua própria ira passageira, ou a sua ambição pessoal de aumentar o seu poder e a sua autoridade sobre os seus rivais. Não reconheciam, nem seguiam, qualquer norma da justiça. O Senhor Javé apresentou-se aos israelitas como o verdadeiro Deus, justo e misericordioso em todas as Suas atividades e relações. Ele é o Deus de Israel, e Israel é o Seu povo escolhido. Havendo experimentado o poder e a bondade do Senhor na sua própria salvação, Israel teve base mais firme para a confiança perfeita do Senhor, mesmo quando não pudesse entender algumas das suas atividades. Assim o problema do sofrimento é considerado de vários pontos de vista no Antigo Testamento. Embora seja difícil fixar precisamente o período de cada uma destas teorias, podemos reconhecer, em geral, as condições sociais e políticas que acentuaram cada uma delas. Evidentemente novas explicações complemeteram e não substituíram as teorias prevalecentes de cada época. Todavia, é bem claro, em toda parte do Antigo Testamento, que Israel nunca abandonou a firme convicção de que o pecado merece punição, e que o seu sofrimento, em todos os períodos da história, foi devido principalmente, senão exclusivamente, ao seu pecado de rebelião contra a orientação revelada do seu Senhor. 

8.2. O PONTO DE VISTA SACERDOTAL DO SOFRIMENTO   

Segundo a literatura sacerdotal, principalmente Levítico, Números e Crônicas, todo o sofrimento, incluindo os males físicos, cai sobre o ser humano por causa dos pecados por ele praticados. É possível que esta posição extremista fosse influênciada pelos cananeus e finícios no período primitivo da história de Israel, mas é a tendência de qualquer sistema sacerdotal. No estudo da punição do pecado na história de Israel, não se encontra um ponto de vista uniforme quanto ao castigo de pecadores. Mas, em todos os casos, a saberania e a justiça rigorosa do Senhor são manifestas e vindicadas na retribuição do mal. É claro também que Deus não castiga arbitrariamente, como os deuses pagãos, mas de acordo com a norma estabelecida da justiça. Revelam-se pontos de vistas diferentes no entendimento da norma Divina da justiça, devido ao fato de que nesse período não havia o conceito bem definido e claro da natureza do pecado. Também não havia entendimento perfeito das bases de responsabilidade. Os sacerdotes interpretaram todos os sofrimentos humanos, incluindo os desastres da natureza, como punição do pecado, embora não fosse possível descobrir, o pecado que teria trazido o desastre. Não surgiu para eles o problema do sofrimento do justo ou do inocente, porque o sofrimento era prova direta do pecado do sofredor e ou dos seus pais. Também os sacerdotes não fizeram qualquer distinção entre a violação das leis cerimoniais e o pecado contra os princípios da justiça humana.

8.3. O ENSINO DOS PROFETAS   

Os grandes profetas dedicaram os seus talentos e a sua vida ao ensino dos princípios da justiça ética. Não eram inovadores, como dizem alguns. Apresentavam-se antes como reformadores, intérpretes novos da redenção Divina de Israel, do concerto entre Deus e o povo da Sua escolha, sucessores de Moisés, Samuel, Eleias e Eliseu, na interpretação da lei moral, revelada a Moisés, ao povo da sua própria época. Mas, como profetas levantados e vocacionados pelo Santo de Israel, não ficavam limitados nos seus ensinos, pela revelação do Senhor aos profetas do passado. Percebiam que o Senhor estava atuando na história do Seu povo, e que eles eram os Seus mensageiros, chamados para denunciar os ensinos falsos sobre a eficácia dos ritos religiosos e os pecados da injustiça social, a imoralidade e a desumanidade do Seu povo. Não resta dúvida de que havia no ensino dos ritos religiosos lugar para apresentar também a prática da justiça como condição de receber as bênçãos do Senhor (Dt 24.10-22; 25.13-15). Os profetas reformadores não protestaram contra a idéia prevalecente de que o sofrimento era sempre a punição do pecado. Com o conceito sacerdotal do pecado, era sempre fácil descobrir uma justificação de qualquer sofrimento que pudesse cair sobre a nação ou sobre qualquer pessoa. Mas limitaram a sua discussão do pecado às ofensas dos ricos e poderosos contra a justiça social: a opressão dos pobres e indefesos, a prática do engano, violência e suborno dos tribunais, para se enriquecerem e viverem em luxo, enquanto apresentavam ofertas e holocaustos sobre os altares para ganhar o favor do Senhor. Os profetas condenaram severamente os pecados de várias classes, mas ainda consideravam englobadamente o povo na sua relação com Deus. Devido à complexidade das condições religiosas, estes profetas aceitaram, por algum tempo ainda, a teoria dos antecessores de que todo o sofrimento do povo era a punição dos seus pecados. 

8.4. O PROBLEMA DO SOFRIMENTO DOS SALMOS   

O livro dos Salmos apresenta a vida religiosa de Israel através de um longo período de tempo. Escritos por diversos autores, os Salmos representam uma variedade de experiências religiosas e muitas qualidades de sentimentos humanos. Muitos descreveram a profunda tristeza, e até desespero dos autores. Em geral, os autores representam o ponto de vista tradicional dos sofrimentos. Reconhecem que, às vezes, os ímpios prosperam e os inocentes sofrem. O ensino mais importante dos Salmos, que tem sido o segredo da sua popularidade e influência na vida das pessoas religiosas, é a fé triunfante dos Salmistas, apesar do problema misterioso do sofrimento. Experimentam todas as qualidades de dor e agonia; zombaria e perseguição de inimigos; acusações injustas pelos associados e amigos falsos; almas torturadas pelo sentimento de culpa, doença e medo da morte. Em alguns casos os Salmistas sofreram na sua miséria por causa da demora do socorro divino. Na sua comunhão com Deus, o Salmista em geral não se sentiu oprimido com o problema da prosperidade dos ímpios e os sofrimentos dos justos. Todavia, tornava-se cada vez mais difícil a teoria tradicional. Mas, com as limitações da sua teologia, era abandonar a teoria sem saber de qualquer outra explicação mais satisfatória. Alguns defenderam vigorosamente a teoria, baseando-se principalmente na sua própria experiência. O autor do Salmo 37, p.ex., insiste repetidas vezes, que os ímpios serão cortados em breve, e os justos herdarão a terra. Os Salmistas que discutiram a questão geralmente acharam a solução no futuro, ou nesta vida, como no Salmo 37 ou na vida após a morte. No Salmo 49, o autor declara que o ímpio não pode levar nada da sua glória consigo, na morte, e tem de descer ao mundo dos mortos, onde nunca verá a luz. Ele, porém, tem a certeza de que na morte o seu espírito será levado para viver com Deus. O autor do Salmo 73 ficou profundamente desanimado quando observou a segurança dos ímpios no aumento das suas riquezas, e quase chegou a crer que em vão ele tinha purificado o seu espírito e lavado a alma na inocência, mas quando entrou no templo ele entendeu o fim dos ímpios. Não podemos achar nos Salmos, nem na Bíblia inteira, uma solução formal para o problema do sofrimento. Mas descobrirmos a experiência espiritual que transcede o problema. Fazemos bem em reconhecer que os sofrimentos que sofremos podem ser uma prova da nossa fé, que na providência de Deus eles podem ter valor disciplinar e redentor e que ultimamente eles darão lugar a um futuro feliz. É melhor ainda ter uma visão elevado do Senhor, que tira do sofrimento o seu aguilhão. 

8.5. O PROBLEMA DO SOFRIMENTO NA LITERATURA DE SABEDORIA   

Os livros de Provérbios, Eclesiastes e Jó, deste grupo, escritos por israelitas, são meditações sobre a vida humana em geral, sem limitar os seus pensamentos à comunidade de Israel. Dois destes livros, Jó e Eclesiates, desafiam com ousadia a teoria tradicional da distribuição da justiça imparcial. Eles refletem o ensino da responsabilidade pessoal, apresentando com força por Jeremias e Ezequiel. Os autores dos Provérbios seguem, sea a perturbação de dúvidas, a teoria de que Deus sempre recompensa os sábios, os prudentes, os sóbrios, os brandos, os industriosos, os honestos, os verdadeiros, os misericordiósos e os tementes a Deus. Não se pode negar o valor destes ensinos do ponto de vista da experiência em geral, mas não tem aplicação universal, Deus faz prosperar aqueles que buscam e seguem diligentemente a sabedoria. O mais importante livro da literatura de sabedoria é uma das grandes obras de todos os tempos é a poesia dramática de Jó. Não sabemos quando foi escrito. Quanto ao problema do sofrimento, o livro responde ao ensino representado por Ezequiel de que o ímpio prospera e o justo não sofre. Os Provérbios e os salmos, em geral, concordam com Ezequiel. Como o pregador de Eclesiastes, o autor questiona a teologia tradicional, mas dentro de uma esfera mais limitada, como o espírito mais reverente e com argumentos mais lógicos e mais firmemente apoiados na experiência. É também mais complicado. Com ousadia, o sofredor defende o seu direito de contender com Deus. Recusa fechar os olhos aos fatos evidentes e na sua miséria não está disposto a ficar calado. Quer saber por que Deus o castiga tão severamente. E queixa-se ainda mais amargamente de que não pode estabelecer comunicação com Deus. Deus não lhe responde. O ser humano deve ter o direito de entender-se com Deus. À luz da sua própria experiência, e das suas observações, ele declara que o ensino tradicional é falso. É fato inegável que os justos sofrem, e que muitos dos ímpios prosperam. Argumenta também que o sofrimento do justo e a prosperidade do ímpio não são meramente de breve duração, mas continuam por muito tempo e freqüentemente até a morte. Qual a função do sofrimento da vida do ser humano justo? O livro, na sua forma presente, é drama que representa vários pontos de vista do assunto. O autor está claramente mais interessado no ponto de vista do seu herói, o sofredor Jó. O prólogo apresenta uma das finalidades do sofrimento; o debate, incluindo os discursos de Eliú, representa mais três; o aparecimento e os discursos do Senhor no fim do livro oferecendo mais uma. Todas estas exposições do propósito do sofrimento do justo tem valor para as pessoas religiosas, embora não solucionarem o problema. Recebemos logo no prólogo a informação de que sofrimentos terríveis hão de cair sobre Jó como prova da sua justiça. Sem saber que estava sendo posto a prova, Jó manteve a sua integridade através de todos os seus sofrimentos. As manifestações generosas da sabedoria e do amor do Senhor, na sua direção providencial da natureza e da vida humana, oferecem, para muitas pessoas, bases suficientes para as condições inabaláveis de que os seus sofrimentos tem uma finalidade e ou propósito benéfico. Esta confiança absoluta no triunfo final da justiça Divina nunca pode ser apagada do espírito corajoso dos servos fiéis do Senhor.

 

9. A SALVAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO   

No Antigo Testamento, o termo `salvação` abrange todas as qualidades de socorro que os israelitas recebem do seu Deus (Javé). O verbo hebraico `yasha` significa `fazer largo, viver em abundância, conseguir a vitória, libertar do poder do inimigo, salvar da opressão, do pecado, da aflição, da doença, da morte`. O substantivo `yesha ou yeshua`, pode significar a salvação em qualquer um, ou em qualquer conjunto, destes vários sentidos. A palavra pode ser usada para significar a salvação do mal na vida futura, ou no sentido de libertação de todas as qualidades de aflição da vida neste mundo. A salvação no Antigo Testamento significa que o processo é iniciado e efetuado pelo Senhor, em favor do Seu povo e pode ser independente do entendimento de Israel. No período antigo da história de Israel, qualquer chefe que tivesse a força de ganhar a vitória sobre os inimigos podia ser designado `salvador do seu povo` (Jz 2.18; 6.14), mas era sempre o Senhor Deus quem dava força ao salvador humano. Em todos os casos, o verdadeiro Salvador é o próprio Deus. Em todas as suas formas, a salvação é teocêntrica, no sentido de que é sempre iniciada e conseguida por forças e pessoas escolhidas e dirigidas por Deus, para cumprir o seu propósito e alcançar o seu alvo. Todas as pessoas de Israel, inclusive os reis, os príncipes, os sacerdotes, os profetas e o povo em geral tinham que depender de Deus, de quem recebiam a vitória, a liberdade, o socorro e a satisfação de todas as suas necessidades. Assim a história de Israel é a história das atividades do Senhor na vida do povo que tinha liberto do Egito e escolhido como o seu povo sacerdotal entre as nações do mundo. Na direção da história do Seu povo, o Senhor levanta os Seus agentes, os Seus servos, e lhes entrega a incumbência Divina, e por intermédio deles consegue os Seus planos e propósitoes. "A salvação pertence ao Senhor" (Sl 3.8). Se as pessoas incumbidas falharem, o Senhor tem outros recursos. As frases "Deus salva" e "Deus é a salvação" encontra-se freqüentemente nas Escrituras do Antigo Testamento (1Sm 14.39; 1Cr 16.35; Sl 68.20; Is 32.32). A história de Israel, como povo independente, começa com a sua própria salvação do miserável sofrimento como escravos no Egito. O Senhor Javé apresenta-se como Salvador logo no princípio das Suas relações com as tribos de Israel, desamparadas nas garras dos seus opressores. Sem qualquer esforço da sua parte, Israel foi libertado pelo Senhor e por Ele levado ao Monte Sinai. O seu Salvador ali lhe anunciou que o tinha escolhido como Seu povo sacerdotal entre todas as nações do mundo.

9.1. O CONCERTO E A SALVAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO   

O concerto tem uma relação fundamental com a doutrina da salvação no Antigo Testamento. O fato é que o concerto no Sinai foi feito com o povo que pertencia ao Senhor como Seu povo peculiar, salvo, santo e escolhido como servo do seu Deus. É Deus quem toma a iniciativa e quem faz o concerto com o Seu povo. Israel pode aceitar, ou rejeitar, o concerto oferecido pelo Senhor, mas nunca pode determinar os seus termos ou condições."Eis que lhe dou o Meu concerto" (Nm 25.12). Quando o Senhor ofereceu ao povo de Israel o Seu concerto, assim aceitou a responsabilidade de cumprir as Suas promessas que Ele mesmo, e não Israel, tinha estipulado. Na aceitação do concerto, Israel prometeu cumprir as suas condições. "Agora, pois, se diligentemente ouverdes a Minha voz e guardardes o Meu concerto, então sereis o Meu tesouro peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é Minha" (Êx 19.5). Deus estabeleceu o Seu concerto com o povo no seu grupo, e não com indivíduos. O israelita participava dos benefícios oferecidos como membro do grupo. O povo podia ser representado por um grande vulto como Moisés, ou por um grupo de anciãos, mas o concerto sempre operava em relação com a comunidade inteira. O concerto também abrangia as gerações futuras dos israelitas. Estrangeiros podiam ser incorporados com o povo de Israel, como no caso dos habitantes de Jerusalém, quando a cidade foi ocupada por Davi.

9.2. O SISTEMA SACRIFICIAL DOS ISRAELITAS   

Há verdades no Antigo Testamento que nem todos os teólogos entendem. O povo de Israel, libertado e escolhido pelo Senhor, apresenta-se, desde o Monte Sinai, como `povo salvo pela graça de Deus`, separado, escolhido, eleito e dedicado, segundo o concerto, ao serviço do Senhor. Mas nem o amor imutável do Senhor poderia prender qualquer israelita contra a sua própria vontade. Assim, qualquer israelita, ou grupo de israelitas, poderia perder o seu lugar, entre o povo escolhido, pela revolta contra o Senhor, como no caso dos mais culpados, que fizeram e adoraram o bezerro de ouro. Outro fato sabentendido no Antigo Testamento é que o sistema sacrificial nunca se apresenta em qualquer lugar como meio de salvação. Reconhecendo que o vovo, na sua enfermidade moral, poderia cair em várias qualidades de erros, o Senhor estabeleceu o sistema de sacrifícios e ofertas para fazer expiação dos pecados de enfermidades e ignorância. Assim o sistema ritual foi instituído para tratar de pecados cometidos dentro do concerto. Deste modo ofereceu ao povo meios de livrar-se do sentimento de culpa de uma qualidade limitada de pecados. Para os pecados cometidos com `alta mão`, pecados de rebelião contra Deus, não havia expiação, porque tais pecados eliminavam o pecador do povo do concerto. Todas as pessoas dentro do grupo escolhido tinham a responsabilidade de cumprir todas as condições do concerto. Quando uma pessoa cometia um pecado de fraqueza, embora involuntariamente, tinha que apresentar a oferta ordenada pela lei. No curso do desenvolvimento da religião de Israel manifestou-se a tendência de estabelecer opiniões a respeito da eficácia do sacrifício. Persistia a idéia tradicional, fortemente combatida pelos profetas, de que o próprio sacrifício tinha o efeito de cancelar o pecado do ofertante. Com o conhecimento mais claro do caráter de Deus, e da dignidade do ser humano, desenvolveu-se um entendimento mais profundo da natureza do pecado. O pecado interrompe a comunhão entre o ser humano e Deus, e afasta o pecador da presença de Deus. Chegou-se finalmente a entender que o verdadeiro arrependimento do pecador, que envolve o ódio pela prática do pecado e a firme determinação de abandoná-lo, era necessário no preparo do espírito para receber o perdão Divino e regozijar-se de novo na comunhão com Deus. Assim os profetas entendiam que o sacrificio era apenas simbólico do espírito reto que devia acompanhar a oferta. Com a interpretação profética do significado do arrependimento e o entendimento mais profundo da graça de Deus, os profetas ensinavam que o motivo do pecado está sempre no amor eterno e fiel do Senhor. Mas, apesar de seus defeitos, o sistema sacrificial servia ao propósito do Senhor no treinamento espiritual do povo escolhido no período da sua história. A graça de Deus operava por intermédio do sacrificio para aliviar o pecador no sentido de culpa e manter a comunhão com o Senhor. Gradualmente esclarecia e aprofundava o conhecimento da santidade e da justiça de Deus. Servia também para acentuar a gravidade do pecado, que separa o ser humano da presença de Deus, e para mostrar o amor imutável do Senhor na salvação do pecador. 

9.3. A PESSOA E A FUNÇÃO DO SACERDOTE
  

O sacerdote, o rei, o profeta e o servo do Senhor são figuras proeminentes nas Escrituras do Antigo Testamento. São agentes e servos do Senhor. Cada um deles representa, na sua pessoa e no seu serviço, um ideal visado no aperfeiçoamento da teocracia que servia. O sacerdote é ministro do Senhor. O concerto representa a relação entre Deus e o povo. O Senhor é o Deus de Israel, e Israel é o povo do Senhor. A lei cerimonial foi um meio de separar o povo escolhido do mundo para o serviço do Senhor. Esta nação santificada e assim preparada para o serviço é designada como um reino de sacerdotes. Todos as pessoas da nação sacerdotal tinham o provilégio de aproximar-se de Deus no serviço. Tinham privilégios iguais quanto ao direito de apresentar ofertas ao Senhor. Há vários exemplos de pessoas que exerceram este direito, como Gideão, Davi, Salomão e outras. Todavia, este privilégio individual não interferia no culto nacional, e não podia dispensar ou tomar o lugar do culto do conjunto do povo que tinha entrado em concerto com o Senhor. O culto nacional tinha que ser celebrado no santuário central por um grupo de sacerdotes que eram servos do Senhor e representantes do povo. Como intermediários entre o povo e Deus. Os sacerdotes tinham que chegar perante o Senhor no serviço. Tinham que ser semelhantes, tanto quanto possível, ao Senhor no seu caráter e nos seus motivos. O ideal da santidade do sacerdote não podia ser perfeitamente realizado, mas podia ser representado simbolicamente, para ensinar ao povo um entendimento cada vez mais claro do ideal. Foi santificada a tribo de Levi exclusivamente para prestar qualquer serviço relacionado com o tabernáculo. Dentro da tribo de Levi foram designados no Monte Sinai os filhos de Arão, com o privilégio exclusivo de ministrar diretamente perante o Senhor. Finalmente, o sumo sacerdote, representando as virtudes e a santidade de toda a casta sacerdotal, era o único que podia entrar no lugar santíssimo, como intermediário entre todo o povo e o Senhor. Mas, com todas as suas regalias, podia entrar neste lugar mais santo apenas uma vez por ano. O sistema sacerdotal culminava no grande dia de expiação. Este era o dia mais importante na vida religiosa do povo de Israel. 

9.4. A FIDELIDADE DO SENHOR NO PERDÃO DO PECADO   

Os profetas e os salmistas tem muito a dizer sobre o perdão Divino dos pecados praticados pelos seres humanos. Os profetas apresentam novas revelações sobre a santidade, a justiça e o amor do Senhor. Sendo justo, o Senhor exige a prática da justiça entre o Seu povo. Com o conhecimento mais profundo do caráter de Deus, aumentou-se o entendimento do valor e da dignidade moral do ser humano individual e da vida humana em geral. Assim o perdão do pecado e a pureza do espírito tinham valor essencial e dignidade própria. Os profetas e os salmistas tinham também um entendimento mais claro do amor persistente e imutável do Senhor, da Sua amorável benignidade e do poder transformador da Sua graça. A salvação não era simplesmente o livramento das conseqüências do pecado, mas a liberdade do poder do pecado. Reconhecendo a natureza pecaminosa do seu próprio espírito, o profeta Jeremias exclamou: "sara-me, Senhor, e serei sarado: salva-me, e serei salvo" (17.14). Evidentemente ele desejava uma verdadeira regeneração, tal como descreve o novo conserto, a revelação no interior, escrita no espírito (3l.33). "Perdoarei a sua iniqüidade, e nunca mais Me lembrarei do pecado por você praticado". O profeta Ezequiel descreve claramente o perdão que transforma a natureza humana. "E vos darei um sentimento novo, e porei dentro de vós um espírito novo, e tirarei do vosso corpo o sentimento endurecido, e vos darei um sentimento maçio. Porei dentro de vós o Meu Espírito, e farei que andeis nos Meus estatutos e observeis fielmente as Minhas ordenanças. Habitareis na terra que dei a vossos pais; e vós sereis o Meu povo, e Eu serei o vosso Deus. E vos salvarei de todas as vossas imundícias" (36. 26-29). 

9.5. O MOTIVO DIVINO EM PERDOAR   

Quando o Senhor, na Sua compaixão, redimiu os filhos de Israel, e lhes deu o Seu concerto no Monte Sinai, assim estabeleceu a base das Suas relações com eles em todas as atividades históricas que prepararam o caminho para a fundação do reino de Deus no mundo inteiro. No sistema sacrificial dos israelitas, as ofertas apresentadas ao Senhor representaram apenas o espírito de arrependimento do ofertante, enquanto o amor imutável do Senhor operava persistentemente no perdão do pecador desviado que desejava o restabelecimento da comunhão com o seu Deus. A graça do Senhor, no perdão do pecado, manifestava-se, no princípio, quase exclusivamente dentro de Israel. O motivo deste favor especial de Deus para com o povo de Israel é "por amor de Mim" ou "por amor do Meu Nome". "Por amor do Meu Nome, retardo o Meu sentimento de ira" (Is 48.9). "Por amor de Mim, Eu o faço, pois como seria profanado o Meu Nome? A Minha glória, não a darei a outrem" (Is 48.11). Assim o perdão visava o propósito do Senhor no desenvolvimento do Seu reino. A restauração de Israel do cativeiro é representada como necessária para vindicar o Nome do Senhor, blasfemado pelas nações quando o povo escolhido foi espalhado entre as nações (Ez 36.16-23). No perdão dos pecados praticados pelo Seu povo, Deus se lembrava das promessas que tinha feito aos patriarcas. "Orei ao Senhor, dizendo: ó Senhor Deus, não destruas o Teu povo e a Tua herança, que remiste com a Sua grandeza, e que fizeste sair do Egito com mão poderosa. Lembra-Te dos Teus servos: Abraão, Isaque e Jacó; não atentes para a dureza deste povo, nem para a maldade, nem para o pecado por ele praticado" (Dt 9.25; Êx 32.12,13; Ne 9.15,23). "Todavia, o Senhor não quis destruir a Judá por amor de Davi, Seu servo, conforme a promessa, que lhe havia feito, de dar para sempre uma lâmpada a seus filhos" (2Rs 8.19). Convém notar que tais promessas se relacionam ao concerto, sempre operante. O amor e a justiça do Senhor sempre constituem o seu motivo imutável do perdão do pecado. A natureza Divina, a santidade que abrange a justiça, não pode deixar de exigir o arrependimento e a fé por parte do pecador, sem o qual nenhum sacrificio e nenhuma oração pode induzir-se o Senhor a perdoar o pecado. Mas Deus tem prazer em perdoar, "por amor do Seu Nome", todos os que almejam o perdão. 

9.6. A OPERAÇÃO DA SANTIDADE, DA JUSTIÇA E DO AMOR DO SENHOR NA SALVAÇÃO  

Como nenhum outro profeta, o Dêutero-Isaias acentua, e põe em relevo, o poder incomparável do Senhor, Criador dos céus e da terra. Mas nem as obras majestosas da criação podem representar adequadamente o poder, a sabedoria e a providência do Senhor. "Eu fiz a terra, e sobre ela criei o ser humano; as Minhas mãos estenderam os céus, e pus em ordem todo o seu exército" (45.12; 40.12-15; 42.5; 45.7). O Senhor é o Deus santo, e não há outro Salvador (40.18,25; 44.24; 46.5). Deus sempre atuava em favor do Seu povo, mesmo quando o entregava "aos roubadores" (42.24). O povo tinha sofrido por causa dos pecados praticados por ele, e não porque o Senhor o tivesse desamparado. Se, quando o Senhor tivesse irado, o Senhor escondeu Sua face do Seu povo por um momento, com amor eterno terá compaixão dele (54.8). Tinha chegado o dia do conforto. A iniqüidade de Jerusalém é perdoada (40.2). O profeta multiplica as evidências da atividade redentora do Senhor. As palavras "confortai, o Meu povo" é a tradução correta das palavras desta profecia. O mensageiro do Senhor não tinha recebido ordem de falar apenas palavras de consolação ao povo na sua tristeza, mas a palavra de conforto que termina com a tristeza, e fortalece o espírito com as boas-novas de redenção. "Eis o vosso Deus!" Cansado e fatigado, o povo receberá o amparo do poder do Senhor. É possível que a mulher se esqueça do seu filho de peito, todavia, Eu não Me esquecerei de ti, diz o Senhor" (49.15). A obra do Redentor pe dupla. Ele resgata o Seu povo do poder do inimigo, e também o redime do pecado, e assim o prepara para o cumprimento da sua missão. Mas a redenção do pecado, a comunhão espiritual com o Senhor, é claramente subentendida nas passagens que descrevem o livramento do poder do inimigo. "Mas agora, assim diz o Senhor, que te criou, ó Jacó, que te formou, ó Israel: não temas, porque Te redimi; chamei-te por teu nome, tu és Meu" (43.1). Este profeta também se refere ao Senhor como Salvado, termo que se encontra em outras profecias, e freqüentemente nos Salmos. Insistem em que não há outro Salvador fora do Santo de Israel. "Eu, sim Eu, Sou o Senhor e fora de Mim não há Salvador" (43.11). Assim a justiça de Deus se manifesta na Sua obra salvadora. A justiça Divina, exemplificada no ser humano, significa a sua salvação. Assim usado, o termo `justiça` mantém o seu sentido ético, e ao mesmo tempo dá mais ênfase à obra salvadora do Senhor. Este conceito de salvação apresenta-se nos Salmos, em Jeremias, Ezequiel, e especialmente em Isaías (42.7), na missão do Servo do Senhor. 

9.7. O MISTÉRIO DA ELEIÇÃO DE ISRAEL   

A história do povo de Israel é dominada pelo conceito da eleição de Israel como povo sacerdotal do Senhor. Esta relação peculiar com o seu Deus envolveu direta, ou indiretamente, todos os interesses e todas as relações da vida deste povo. A consciência sensível de Israel surgiu na convicção da sua escolha e da sua missão. As lutas políticas e sociais na pequena nação entre as nações operavam poderosamente contra o exercício da sua vocação, mas nunca poderiam apagar a certeza de que tinha sido eleita como o povo peculiar do Senhor. Os escritores Bíblicos não puderam explicar, como também os teólogos nunca podido explicar, o mistério da eleição de Israel. As Escrituras do Antigo Testamento, produzidas no calor das experiências dos autores em comunicação direta com o Senhor, revelam o poder misterioso do Deus soberano na direção da história de Israel em perfeito acordo com a finalidade da sua eleição. A comunidade de Israel foi eleita e separada do mundo para transmitir a palavra de redenção às nações (Gn 12.2-4; 18.18; 22.17,18; 26.4). Os escritores bíblicos apresentaram a eleição deste ponto de vista teológico, mas o povo em geral nunca ficou entusiasmado no desempenho da sua missão. A Bíblia insiste em que Israel não escolheu ao Senhor. O Senhor fez a escolha, e estabeleceu Israel como nação. O concerto que o Senhor deu a Israel foi o laço que uniu o povo com Ele, dando-lhe o privilégio de receber as bênçãos do seu Deus, incluindo a orientação da sua vida nacional. O concerto não foi bilateral, no sentido de um pacto ou contrato. Não impôs ao Senhor quaisquer obrigações. No Seu amor imutável, tinha já escolhido a Israel como o Seu povo para transmitir às nações a mensagem da graça Divina. Com a eleição, o Senhor tinha demonstrado que era o Deus de Israel, e assim tinha aceito as suas obrigações antes de apresentar o concerto ao povo. O Senhor declarou ao povo que, da Sua parte, nunca terminaria o concerto. Mas Israel, por sua parte, poderia terminá-lo, se quisesse, pois a lealdade não pode ser forçada. Mas o concerto, por sua própria natureza, não dava a Israel o direito de terminá-lo. Podia repudiá-lo, mas somente com vergonha e desonra. 

9.8. DEUS, COMO PAI, NO ANTIGO TESTAMENTO   

O Senhor é reconhecido como o pai do povo na sua coletividade, mas não se nega ao israelita como indivíduo o direito de chamar-se ou ser chamado "filho de Deus". A democracia dos israelitas, a dignidade do ser humano e a defesa dos seus direitos indicam que o israelita como indivíduo tinha o privilégio de pensar no Senhor como seu pai, e reconhecer-se a si mesmo como filho de Deus. Oséias é o primeiro pregador da graça de Deus, o primeiro profeta que descreve o amor do Senhor nos termos íntimos de ternura e compaixão nas mais profundas relações humanas. Despertou a consciência do seu povo pela exibição do amor do Senhor como o mais poderoso atributo Divino na redenção do ser humano.

 

10. O REINO DE DEUS   

É profundo o significado bíblico da frase "o reino de Deus". Examinando à luz do conceito da soberania de Deus, o governo Divino do universo é Eterno; é também manifestado na direção da vida das pessoas, e será realizado na sua perfeição no futuro. A frase exata não consta no Antigo Testamento, mas os escritores apresentam o Senhor Deus como o Criador e Controlador de todas as coisas, segundo a perfeita sabedoria do Seu propósito. Na escolha de Israel como o Seu povo sacerdotal, o Senhor revela o Seu propósito de estabelecer o Seu reino entre todas as nações do mundo. Na realização progressiva deste propósito, Ele se revela como o diretor da história humana. Estas idéias fundamentais do Antigo Testamento já foram mencionadas várias vezes no curso desta obra, e tem que ser lembradas no exame bíblico do reino de Deus. 

10.1. O POVO DE ISRAEL E O REINO DE DEUS  

É fato de importância histórica que os escritores do Antigo Testamento, em geral, reconhecem Moisés como o fundador da sua nação. Ele é reconhecido também como o profeta que transmitiu a Israel a revelação do seu Deus (Javé). Através do Antigo Testamento inteiro Javé é o Deus de Israel, identificado com "Elohim", o Criador de todas as coisas, e com "El Shaddai", o `Todo-poderoso`, `o Deus de Abraão, Isaque e Jacó`. As Escrituras reconhecem que o Senhor tinha dirigido o mundo desde a criação (Dt 32.8), e mostram nos primeiros onze capítulos de Gênesis que Abraão era descendente de Sem, filho de Noé, segundo a linhagem de Arfaxade e Eber (Gn 10.21-24; 11.13-26). Era a escolha de Israel, libertado do poder do Egito pelo Senhor e por Ele estabelecido na Palestina como sua nação sacerdotal, uma unidade religiosa que representava uma nova forma do reino de Deus no mundo. Israel trouxera consigo do Egito uma nova religião desconhecida no mundo até então. A sua fé era tão drástica que representava um rompimento completo com todas as formas do paganismo antigo. Há opiniões diferentes sobre a natureza da nova religião de Israel que resultou na sua libertação do Egito. Os israelitas, porém, tinham a certeza de que Javé, o seu Deus, lhes aparecera e, no Seu poder, os libertara sem qualquer esforço da parte deles. Eram apenas testemunhas do poder do Senhor na sua libertação. Assim a religião de Israel foi excepcional, incomparável, não somente na sua origem, como também nos seus característicos fundamentais. Primeiro de tudo, a sua fé foi monoteísta. Esta declaração é freqüentemente contestada, mas sem argumentos persuasivos. Para Israel, havia um só Deus, e o mandamento, `não terás outros deuses perante Mim`, proibia o reconhecimento de qualquer outro deus. O Senhor se apresenta como Deus zeloso, que não tolera qualquer outro deus. O monoteísmo de Israel não era uma doutrina logicamente formulada, no sentido moderno, mas era prático e não permitia a adoração de qualquer outro deus. Alguns israelitas reconheciam a existência de outros deuses, mas quando os adoravam eram cortados da congregação dos fiéis, como no caso daqueles que adoraram o bezerro de ouro. À luz dos novos conhecimentos da arqueologia Bíblica e da vasta literatura das religiões conteporâneas, não é mais possível manter a teoria de que a fé dos israelitas que vieram do Monte Sinai para a Palestina era uma religião tribal que gradualmente se desenvolveu em monoteísmo. Neste estudo da teologia do Antigo Testamento, verifica-se progresso na revelação do Senhor ao povo de Israel através da sua longa história. É uma revelação coerente e harmoniosa do princípio ao fim. A revelação de Javé como o verdadeiro Deus começou com a salvação e a escolha de Israel, como o mensageiro do Senhor a todos os povos do mundo. Esta experiência de Israel era tão revolucionária, tão maravilhosa, que era impossível entender logo a sua plena significação. A fidelidade do Senhor no cumprimento do Seu concerto com Israel; as Suas atividades na história do Seu povo escolhido: enfim, todas as Suas comunicações com os profetas na direção providencial do Seu povo relaciona-se com o Seu propósito no livramento e na eleição de Israel. O Antigo Testamento e a história de Israel, são evidências do milagre da graça do Senhor na redenção e na escolha de Israel para cumprir o Seu propósito no estabelecimento do Seu reino no mundo.

10.2. A NATUREZA DO REINO DE ISRAEL   

O concerto do reino de Israel como teocracia foi mantido apesar das suas falhas e fraquezas. Mas os dois pontos de vista sobre a fundação e a natureza da monarquia manifestaram-se por muito tempo depois do período de Davi e Salomão. Um ponto de vista representado em partes da literatura histórica. O reino de Israel não é, e não pode ser, mais reconhecido como o reino de Deus na terra, mas Oséias não perdeu esperança quanto ao futuro de Israel. O reino de Deus é divorciado do reino de Israel. Apesar das admoestações dos profetas Amós e Oséias, Israel, nas suas loucuras, andava depressa para a destruição. 

10.3. CARACTERÍSTICAS POLÍTICOS E RELIGIOSOS DO REINO DE JUDÁ   

Com a queda de Israel e a política de genocídio da Assíria, o povo desta pequena nação gradualmente perdeu a sua identidade. É provável que a esperança de Oséias (2.19,20), e de Jeremias (31.1-6,15-22), foi realizada em parte na vida de alguns israelitas fiéis, ou na sua terra ou no estrangeiro. Sabemos de (2Cr 30.10,11), que alguns israelitas das tribos de Aser, Manassés e Zebulom aceitaram o convite de Ezequias e visitaram o Templo em Jerusalém a fim de participar do culto do Senhor. É também provável que alguns dos israelitas fiéis no território de Babilônia, tomada da Assíria, voltaram do cativeiro com os judeus, na restauração ordenada por Ciro. Havia diversos esforços entre os povos vizinhos de Judá para levantar, em conjunto, uma revolta contra a Assíria. O profeta Isaías, que tentou em vão dissuadir o rei Acaz da tolice de sujeitar-se ao poder da Assíria, mostrou-se igualmente contra a participação de Judá na revolta contra ela. Como estadista, Isaías entendeu a futilidade de alianças, e revoltas de pequenas províncias contra impérios poderosos. Quando o povo ficou entusiasmado com o convite de aliar-se com o Egito para livrar-se do poder da Assíria, Isaías reconheceu que o socorro do Egito era uma ilusão. O profeta andou "nu e descalço por três anos" para servir de sinal, e portanto contra o Egito e contra a Etiópia. Mostrou o caminho para Judá, segundo a Palavra do Senhor, o Deus Santo de Israel. Há certos princípios na fé e nos ensinos do profeta Isaías que se devem entender para compreender não somente a sua teologia, como também a teologia Bíblica e as verdades fundamentais do reino de Deus em todas as épocas da história. Deus escolheu Israel para ser o Seu povo, e lhe deu o concerto do Sinai. O povo aceitou voluntariamente as responsabilidades estipuladas no concerto, e poderia, em qualquer tempo, repudiá-las voluntariamente. O fracasso do povo no cumprimento das suas promessas importou na rejeição do concerto. O povo de Israel é a vinha do Senhor (5.17), que o vinhateiro cultivou com cuidado e carinho, na esperança que desse os frutos de retidão e justiça, mas produziu a injustiça e a opressão. Portanto, o povo da parábola da vinha, foi entregue aos seus próprios desejos. então, como se entende esta relação do Senhor com o povo de Sua escolha e o propósito de usá-lo no estabelecimento do Seu reino de justiça na terra? Isaías compreendeu a posição complicada do seu povo à luz da sua eleição, e do fracasso pendente do Estado de Judá, como tinha caído a nação de Israel, sem cumprir o propósito de Deus na sua escolha. A queda de Judá, como estado político, baldará completamente o propósito Divino na eleição do povo de Israel? O concerto do Senhor ficará malogrado com o término do Estado de Judá? De modo nenhum, Isaías tem a solução deste problema eterno da teologia: a soberania do Senhor e o livre arbítrio do ser humano. A relação entre Deus e o Seu povo de Israel não era mecânica, mas moral e espiritual. O povo escolhido para o serviço do Senhor é livre para aceitar, ou renunciar, as suas responsabilidades. A soberania do Senhor não é limitada pela fraqueza daqueles que deixaram de cumprir as promessas de fidelidade. Mas o Senhor, na Sua soberania, é ilimitado, nas atividades do Seu reino, por Seus atributos de santidade, justiça e amor. Há sempre o grupo dos fiéis que não dobram os joelhos a Baal, e reponde com gratidão à benignidade amorável do Senhor. É só este restante de fiéis que o Senhor soberano pode usar no serviço espiritual do Seu reino de amor e justiça. 

10.4. O RESTANTE FIEL DO POVO ESCOLHIDO   

Apesar da finalidade do Estado de Judá, sob o governo de reis como Acaz e Manassés, Isaías não creu que a nação seria completamente destruída, como foi destruído o Estado de Israel. Apesar de ter caído Judá nos mesmos pecados que destruíram o Estado de Israel, Isaías não podia acreditar que a sua nação havia de ser totalmente exterminada. Para entendermos a personalidade de Isaías e o valor teológico de seus ensinos, temos que estudar o seu entendimento do caráter de Deus. A sua doutrina do restante fiel relaciona-se com suas profundas experiências religiosas com o Senhor. O Deus de Isaías é o Senhor santo da visão inaugural, o Deus cuja glória enche não somente o templo, como também a terra toda. Perante o Senhor santo e justo o ser humano moral não é nada (2.11,12). Os poderes das nações da terra, como a Assíria, são apenas utensílios na Sua mão (7.18,19). Na direção da história humana, Deus usa os poderes, como a Assíria, para conseguir os Seus propósitos, em visitar sobre eles o fruto da sua arrogância (10.5-19). O Deus soberano dirige a história da humanidade de acordo com o Seu propósito supremo, e não o abandona a qualquer poder ou ideologia política dos seres humanos. O reino político de Israel tinha caído, e não poderia falhar também o Estado de Judá? Não somente poderia, mas já estava determinada a sua queda, por causa dos  pecados praticados por eles. Mas o Senhor faz operar as Suas intenções na história, e assim salvará um restante, os fiéis de Judá, para conseguir o Seu propósito na escolha de Israel. Mas a salvação do restante não é mecânica, como não é mecânica a operação de Deus na história, mas ética e espiritual. Havia, em Judá, pessoas e até reis como Ezequias e Josias, dispostos e prontos para responder à graça salvadora de Deus, apesar dos sofrimentos que porventura tivessem que enfrentar nos perigos que a nação defrontava. O profeta confiava firmemente na existência e na fidelidade da "santa semente" (6.13). O desastre deixou a casa de Davi como carvalho derrubado, mas ainda havia seiva no tronco, e das suas raízes sairia um renovo, que daria fruto (11.1). Assim esta confiança inabalável do profeta no restante fiel do povo escolhido baseia-se no seu conceito do Santo de Israel e no conhecimento do seu povo. A doutrina do restante fiel do povo de Deus é um dos ensinos característicos de Isaías (4.2-4; 10.20-22; 37.30-32). O profeta deu aos dois filhos nomes significativos para reforçar este ensino. O primeiro nome dá ênfase aos estragos que Judá há de sofrer pela invasão dos assírios: `Mahe-shalal-hash-baz`. "Acera o despojo, apressa a presa" (8.1). O segundo nome põe em relevo a firme esperança do profeta. `Shear-jashub`. "Um restante voltará" (7.3). Assim o reino de Deus fica divorciado do estado de Judá. O Estado de Judá poderia cair, como tinha caído o Estado de Israel, mas o profeta ainda confiava firmemente que o propósito de Deus na eleição de Israel seria realizado. O reino de Deus seria estabelecido finalmente pelo restante fiel do povo escolhido. Não se pode justificar a idéia de que todos os acontecimentos tem a sua origem na vontade de Deus. Mas eventos que tem a sua origem na vontade dos inimigos de Deus não ficam inteiramente fora do seu controle. "As Suas ternas misericórdias estão sobre todas as Suas obras" (Sl 145.9). Esta é claramente uma declaração de fé. Mas a fé na providência Divina é fortalecida com o entendimento da história do povo de Israel. O Deus do amor persistente e imutável, e de poder supremo, governa o mundo que Ele criou (Sl 145), e de um modo especial o Seu povo (Sl 8 e 23), cuidando com carinho da vida e da atividade do seu restante fiel. 

10.5. O DIA DO SENHOR   

O dia do Senhor é o dia de `juízo` do Senhor. Nas versões portuguesas da Bíblia, a palavra `juízo` é considerada como sinônima de `justiça`, mas freqüentemente significa também os `estatutis` de Deus e as `ordenanças` da lei. No sentido do `julgamento` do Senhor, o termo refere-se ao julgamento dos atos dos seres humanos e das nações na história, e também no fim da história. Como foi indicado na discussão do restante fiel do Senhor, o reino de Deus visa a vindicação da justiça e dos justos. Os israelitas, em geral, tinham a tendência de pensar, por muito tempo, que eles eram os justos, em virtude da sua eleição como povo do Senhor. Em certos casos esta opinião recebe apoio das Escrituras e assim se justifica, em parte, especialmente quando a vida moral e religiosa dos israelitas é comparada com a de seus vizinhos. É deste ponto de vista que se entende o significado do dia do Senhor na profecia de Obadias. Neste dia de julgamento e maldade das nações cairá sobre a cabeça delas, mas para os da casa de Jacó haverá livramento. No tempo de Amós, o povo do Reino do Norte desejava o dia do Senhor (5.18). Mas o povo sofria da `doença da teologia`. O povo de Israel pensava que o dia do Senhor significava o estabelecimento do seu governo benéfico sobre o povo escolhido. Mas não entendia a justiça de Deus, que exige a justiça do povo do Seu reino. Nesta profecia o dia do Senhor será um dia de julgamento de Israel. Contrário ao pensamento popular, a eleição e os privilégios especiais de Israel não podem isentá-lo do julgamento, mas pedem antes o castigo de todas as suas injustiças. Não pode haver esperança nehuma para Israel no dia do Senhor. "Será como se um ser humano fugisse de diante dum leão, e lhe saísse ao encontro um urso; ou como se entrasse em casa, e encostasse a mão à parede e o mordesse uma cobra" (5.19). 

10.6. O NOVO CONSERTO   

Os reinos de Israel e Judá violaram o concerto do Senhor, e assim fracassaram como estados do povo escolhido. Para entendermos a tragédia espiritual de Judá, precisamos estudar a profecia de Jeremias. Este profeta exerceu o seu ministério na época quando o Estado de Judá se apresentava para a destruição. Depois de passar pelas experiências de dúvida, de revolta, contra a sua sorte, queixando-se das responsabilidades que o Senhor lhe impusera, das injustiças e perseguições que sofrera às mãos do seu povo, que servia em circunstâncias tão desfavoráveis, o profeta emergiu purificado pelo fogo do sofrimento e heroicamente consagrado à sua dura missão. De espírito perceptível, e de alma profundamente sensível, Jeremias entendeu claramente as fraquezas religiosas e as falsas esperanças do seu povo que não podia perceber a agonia mortal da sua nação. Na sua empatia, o profeta levou sobre si os problemas e o sofrimento do seu povo. As qualidades do seu caráter e da sua pregação contribuíram poderosamente para fortalecer a fé esmorecida do povo para sobreviver à morte do estado, e viver como congregação espiritual. Os profetas Jeremias e Ezequiel, como mensageiros de Deus, anunciaram fielmente a tragédia do julgamento Divino sobre o Estado de Judá, reconhecendo que Deus estava operando na história para a realização do Seu propósito moral. Graças à pregação de Jeremias e Ezequiel, a fé de Israel mostrou-se suficientemente forte para sobreviver à mais terrível catástrofe. O profeta Jeremias apresenta novas interpretações de verdades espirituais imperfeitamente entendidas na sua época. Ele pôs em relevo a espiritualidade da natureza de Deus. Alguns teólogos pensam que o profeta sem muita ênfase à ira do Senhor, mas devem lembrar-se de que a ira Divina sempre se manifesta contra a injustiça. Para demolir as falsas esperanças do povo, Jeremias tinha que expor a incompatibilidade da injustiça de Judá com a justiça de Deus. Assim o reino de Deus será completamente vitorioso no fim da história. Apesar de todas as forças que operam contra o progresso do reino de Deus no mundo, no fim da história, o propósito do Senhor, o propósito do Controlador da história, será realizado, e o Seu reino será estabelecido no mundo inteiro. Diz o Senhor. 

11. A ESPERANÇA MESSIÂNICA   

O termo `messiânico` tem uma significação dupla. Refere-se, ou à idade messiânica, ou à vinda pessoal do `Messias`. Do ponto de vista dos escritores do Antigo Testamento, em geral, a esperança messiânica significa a crença na vinda do rei ideal de Deus. Trata-se do futuro do povo de Deus. O fracasso dos reinos políticos dos israelitas na missão de representar o reino de Deus na terra. Pesados na balança da justiça Divina, os reinos de Israel e de Judá foram achados em falta. O reino messiânico significa o aperfeiçoamento do reino de Deus. Como representado pelos escritores do Antigo Testamento, o aperfeiçoamento do reino de Deus abrange quatro elementos: "o juízo Divino, a redenção de Israel, uma nova idade da história e o próprio Messias". Estes elementos são entrelaçados, mas o dominante, de que depende a plena realização da esperança, é geralmente o do próprio Messias. Mas o estabelecimento do reino ideal é representado, às vezes, como a obra direta de Deus. O povo do reino messiânico submete-se voluntariamente à vontade do Senhor e assim recebe a graça da redenção. Há muita diferença nas interpretações das Escrituras messiânicas. Os escritores do Antigo Testamento apresentam interpretações para mostrarem o cumprimento da esperança messiânica na pessoa e no reino de Cristo. Os vários ramos do cristianismo, com poucas exceções, tem seguido a interpretação apostólica do Antigo Testamento, mas os judeus e os muçulmanos apresentam interpretações diferentes destas Escrituras. Há diferença nas opiniões sobre a origem e o valor da esperança messiânica. Alguns radicais insistem no seu desenvolvimento no período do exílio, juntamente com a literatura apocalíptica. Dizem que a expectativa messiânica se originou com o profeta Ezequiel. Ele desenvolveu a escatologia do Antigo Testamento da qual surgiu a literatura apocalíptica. Segundo esta teoria extravagante, todas as passagens messiânicas nos livros escritos antes do tempo de Ezequiel são interpolações. Mas esta teoria não pode ser mantida à luz da história, nem da interpretação histórica da literatura do Antigo Testamento. A literatura do Antigo Testamento é a primeira e a única do tempo que entendeu a marcha da história para o fim predeterminado, revelado ao povo de Israel no Monte Sinai, na finalidade da sua escolha. Assim todos os escritores do Antigo Testamento entenderam, claramente, o propósito do Senhor na orientação histórica do Seu povo. É evidente que as passagens messiânicas de Isaías, e as dos outros livros Bíblicos, cabem perfeitamente nas suas respectivas épocas da história. A eliminação destes excertos como interpolações resultaria em incrível mutilação da Bíblia. 

11.1 O JUÍZO DIVINO, A LUTA CONTRA O PECADO E A ESPERÂNÇA DE VITÓRIA   

É claro que nem todas as Escrituras que tratam do problema do pecado estão relacionadas diretamente com a esperança messiânica. Na revelação progressiva do propósito eterno de Deus, no Antigo Testamento, encontram-se numerosas promessas da vitória final e completa sobre o pecado. Esta vitória será alcançada pelas atividades constantes e persistentes do Senhor na história, com os Seus infinitos recursos espirituais, de acordo com as Suas promessas, a Sua santidade, o Seu amor e a Sua justiça. Os fatos da história religiosa de Israel testificam que o Senhor libertou este povo da sua miséria np Egito, e o levou sobre asas de águias, e o trouxe a Si no Monte Sinai, onde fez com ele o Seu concerto. "Agora, pois, se obedecerdes à Minha voz, e guardardes o Meu concerto, sereis a Minha própria possessão dentre todos os povos, pois toda a terra é Minha, e vós Me sereis reino de sacerdotes e nação santa" (Êx 19.5,6). Segundo o concerto, o problema do pecado para Israel foi condicionalmente resolvido. Se obedecesse à voz de Javé e guardasse o Seu conserto, seria uma nação santa, pertencente ao Senhor, e como tal, livre do pecado. Todos os profetas repreendem severamente a perversidade de Israel, e a falta de cumprir o propósito do Senhor na Sua escolha. Israel fora escolhido para glorificar o Nome de Javé entre os povos e para lhes dar conhecimento do verdadeiro Deus. O Senhor, no Seu amor imutável, tinha demonstrado constantemente Seu cuidado carinhoso pelo Seu povo, revelando-lhe, por intermédio dos profetas, os recursos da Sua santidade, justiça, poder e misericórdia, para ensiná-lo no desempenho da sua vocação. Todos os profetas, desde Amós, explicam como o povo escolhido respondeu ao Senhor. A nação era adúltera, povo infiél, mostrando a ingratidão para com o Senhor, que o chamara para ser o Seu filho primogênito. As terríveis repressões à perversidade e à ingratidão de Israel produziram poucos resultados, mas os profetas não perderam a esperança. Eles sabiam que a infidelidade de Israel mereceu o castigo do cativeiro, com a vergonha, a humilhação, o sofrimento e a morte de muitos, mas esperavam que o povo ficasse assim preparado para ouvir a mensagem do amor imutável do Senhor.

11.2. A REDENÇÃO DE ISRAEL  

Juntamente com as denúncias da infidelidade de Israel é proclamada a salvação Divina, na condição de arrependimento e fé. Em Isaías (1.18), entre as representações severa de Israel, o Senhor proclama pelo profeta. A redenção futura, ou na época messiânica, segundo algumas profecias e salmos, será conseguida diretamente por Javé. Ele virá pessoalmente na glória, estabelecerá o Seu reino na terra, e reinará sobre o Seu povo (Sl 146.19). Assim como Javé Se revelou antigamente ao povo de Israel no Seu poder de redentor, e o trouxe para Si, outra vez, pela Sua própria mão, como bom pastor, trará de longe as Suas ovelhas espalhadas, e as recolherá para Si (Is 35.4-6). O Senhor Javé virá com o braço de valente, e ao mesmo tempo como o carinhoso pastor. De Sião reinará sobre todas as nações (Is 40.10,11; Ez 34.11-22; Zc 14.16). Encherá da Sua glória o templo, e brilhará constantemente sobre a Sua cidade (Ez 43.2-7). Com a presença do próprio Senhor, não haverá mais necessidade da arca (Jr 3.16). Surgem questões interessantes sobre estas Escrituras que falam da salvação direta do Senhor. Cumpriram-se estas promessas com o governo do Senhor na volta dos israelitas do cativeiro? Foram cumpridas, em parte, pela presença e poder do Senhor no livramento do Seu povo do cativeiro, e pela sua restauração em Canaã, não mais como Estado, mas como congregação espiritual. Mas isto foi apenas um passo no preparo para a vinda da idade messiânica. Aparentemente, alguns dos profetas, como Ageu e Zacarias, esperavam por algum tempo que o restabelecimento de Israel fosse o princípio da idade messiânica. Os característicos da salvação messiânica apresentam um contraste notável com o perdão dos pecados, segundo a experiência dos israelitas em geral. Enquanto o crente do Antigo Testamento vivia pela fé, e conhecia a paz proporcionada pelo perdão, este perdão não repousa na expiação objetiva e permanente, e assim não podia estabelecer no seu espírito a certeza de uma reconciliação permanente com Deus. Quando recebia o perdão de qualquer pecado, ele começava de novo a procurar a sua justificação perante Deus pelas obras da lei. Não sentia no seu espírito a presença e o socorro constante do Espírito de Deus. Entendeu a conversão como mudança moral, sem experimentar a regeneração da sua natureza, segundo o novo concerto. `A salvação messiânica é eterna`. "Eu me lembrarei do Meu concerto contigo nos dias da tua mocidade, e estabelecerei contigo um concerto eterno" (Ez 16.60). Mas como é que Deus podia garantir este concerto eterno com o povo obstinado, que se mostrara infiel ao concerto existente? Deus promete dar ao povo uma natureza para habilitá-lo a ser fiel ao seu Deus e ao cumprimento da sua missão. Mas Israel tem de entender que Deus não realiza os Seus propósitos por um processo mágico. Ele opera conforme a Sua justiça e misericórdia. Por parte do povo torna-se possível no arrependimento e na volta ao Senhor. O Senhor efetuará a nova salvação por meios espirituais, em perfeito acordo com a Sua santidade, justiça e amor, e conforme a natureza e a necessidade espiritual do povo. Os desterrados, humilhados e disciplinados pelo castigo, pelos pecados por eles praticados, e verdadeiramente arrependidos dos pecados, ouvem a terna voz do Senhor, e das terras longínquas apressam-se com tremor, para que a redenção não seja demorada (Jr 31.9). `A salvação messiânica é da graça livre de Deus, é perfeita, e sustenta-se contra todas as forças do mal`. Olhando para o futuro, o profeta Oséias viu a Israel tornando-se de novo a noiva do Senhor, com gratidão, amor e fidelidade.